Diretor de 'Medianeras' retrata a loucura de argentinos nos anos 90
Numa tarde de verão em Buenos Aires, um grupo de mulheres se reúne no alto de um edifício e sonha com viajar ao Caribe, escapando de parceiros insatisfatórios e empregos mal pagos.
Fazem contas, discutem detalhes e, para conseguir dinheiro, aventam participar de um filme pornográfico.
Esse é o enredo de "As Insoladas", do argentino Gustavo Taretto, diretor de "Medianeras" (2011), um dos convidados do 10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo.
Divulgação | ||
Cena do filme 'As Insoladas', do argentino Gustavo Taretto |
"É um filme que também tem Buenos Aires como protagonista. Mas o que quis mostrar desta vez é como a década menemista [anos 1990, corresponde à gestão de Carlos Menem] transformou as coisas aqui", diz à Folha.
"A dolarização da economia nos enlouqueceu, havia filas de pessoas querendo ir ao Caribe. Mas também muita gente ficou para trás, como essas meninas", conta.
Para o diretor, a época foi prejudicial à cultura argentina. "Perdemos nossos referenciais estéticos. A cultura do êxito se impôs, e ficaram em segundo plano as culturas do trabalho e da arte, que eram tão características de Buenos Aires até então. A cidade se modernizou, mas perdeu seu charme histórico, e as pessoas ficaram obcecadas com viagens em cruzeiros e cirurgias estéticas."
Sobre o sucesso de "Medianeras" no Brasil, onde foi mais visto do que na própria Argentina, Taretto diz: "Apesar de ter traços muito locais, é um filme que fala de várias cidades contemporâneas, onde as pessoas estão muito sozinhas e muito conectadas às redes ao mesmo tempo. Recebo mensagens de brasileiros sobre o filme até hoje".
HOMENAGENS
O festival fará homenagem a dois cineastas –ao argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco e ao pernambucano Lírio Ferreira.
Vários filmes brasileiros terão pré-estreia no evento. Nesta quarta (29), após a cerimônia de abertura, será exibido o novo longa de Marcelo Masagão ("Ato, Atalho e Vento").
Integram a programação, ainda, os novos trabalhos de Cristiano Burlan, "Sermão dos Peixes", e "Trago Comigo", de Tata Amaral.
No sábado, estão programadas três sessões de filmes de terror, incluindo produções de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, Marcos DeBritto e André de Campos Mello.
Na programação está ainda o longa brasileiro"Não Estávamos Ali para Fazer Amigos", de Miguel de Almeida e Luiz Cabral. O documentário fala sobre a atuação da "Ilustrada" no período da ditadura militar no país (1964-1985).
Para realizar um balanço do evento, haverá um seminário internacional sobre os rumos da produção latino-americana no século 21, reunindo produtores e programadores de festivais do México, do Chile e de outros países.
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