Mostra 'Rumos' exibe novos nomes, do artesanato à arte digital
"É muita mecânica e tecnologia junto." Olhando para a sua obra, uma espécie de onda metálica e espelhada que reage ao som de vozes sopradas num microfone, a artista Rejane Cantoni parece resumir com essa frase a essência dos trabalhos que ocupam todo o Itaú Cultural.
Desde que juntou num só edital disciplinas antes separadas em concursos específicos, como artes visuais, dança e teatro, o centro cultural na avenida Paulista mostra agora alguns dos trabalhos do "Rumos" –projeto criado há 18 anos e recém reformulado–, em que videogames conversam com obras de arte.
Um programa criado para smartphones pelo artista Bianchi Serique, por exemplo, conta a história de Belém pelos azulejos da cidade –quando visualizados pelo telefone, eles acionam uma narrativa.
Divulgação | ||
Animação em vídeo de João Angelini |
Destrinchando outra história, a dupla Gisela Motta e Leandro Lima recriou o clássico "Psicose", de Hitchcock, usando imagens e trilhas sonoras disponíveis em bibliotecas digitais. No fundo, é um genérico com semelhança estarrecedora com o original.
"É a edição como criação", diz Eduardo Saron, diretor do centro cultural. "Essas leituras fragmentadas que vão costurando narrativas foram uma grande tendência nas obras."
Berna Reale, uma das artistas que agora representa o país na Bienal de Veneza, levou a sério essa ideia de narrativas paralelas e foi a cinco países em desenvolvimento –Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul– para fazer suas séries fotográficas e performances.
Numa de suas ações, ela aparece em pleno metrô de Moscou vestindo uma fralda com um retrato do presidente russo Vladimir Putin estampado na bunda. Num vídeo, é vista equilibrando uma trouxa enorme sobre a cabeça enquanto caminha vendada por um mercado sul-africano.
Esse ar de improviso ou guerrilha urbana nas ações de Reale ancora outra vertente da mostra, com obras menos tecnológicas e quase artesanais.
João Angelini, no caso, revisita a stop-motion, técnica tradicional de animação, para criar vídeos em que escritos num caderno parecem tremelicar como se feitos na hora, diante dos olhos do público, ou uma sequência em que o próprio artista desaparece ao se chocar contra um muro.
Na mesma linha lo-tec, Joana Traub Csekö e Pedro Urano filmam a destruição de uma ruína modernista no Rio –um tributo a Gordon Matta-Clark, artista norte-americano famoso pelas casas que partiu ao meio e buracos que cavou em prédios abandonados em Nova York e Paris.
Também no Rio, Cecília Cipriano levou os ideais de Matta-Clark a uma favela, onde recortou os pedaços de casas que trouxe para sua instalação na mostra. São memórias fragmentadas –de alvenaria.
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