CRÍTICA
Com ironia e lirismo, filme cubano retrata vida atual no país
No vaivém da produção ficcional vira e mexe a escola reaparece como um microcosmo da sociedade, uma representação condensada que dá a ver com clareza o que se passa num país.
"Numa Escola de Havana" encaixa-se nessa categoria ao projetar um retrato irônico e lírico da vida em Cuba hoje.
O terceiro longa do diretor Ernesto Daranas adota dois polos, o dos adultos, com seu papel pedagógico e poder de decisão, e o das crianças, com seus horizontes abertos.
A figura central do polo adulto é Carmela, uma professora veterana, adorada pelos alunos e que concentra os afetos de grande mestra, avó e autoridade. A atuação excepcional de Alina Rodríguez agrega profundidade à personagem e impede transformá-la numa caricatura maternal.
Divulgação | ||
Alunos de uma escola ficcional em Havana, microcosmo da sociedade no filme de Ernesto Daranas |
O polo infantil gira em torno de Chala, que o ator mirim Armando Valdes Freire valoriza com uma interpretação de intensidades, oscilando entre o malandro e a vítima, o apaixonado e o bruto.
Chala mora com a mãe, jovem alcoólatra que vive à margem e deixa o menino à deriva. Por causa disso, uma assistente social que acompanha o caso decide que o garoto tem de ser levado para um reformatório.
O menino também protagoniza o universo infantil da escola, ao lado de amigos, em confronto com um inimigo, apaixonado pela doce Yeni (Amaly Junco), garota cuja situação familiar amplifica o retrato da precariedade social exibido pelo filme.
Se este resumo sugere que o enfoque de "Numa Escola de Havana" seja a vitimização, o filme não se esgota no vampirismo da miséria.
Carmela, por exemplo, carrega consigo a história do projeto cubano por outro modelo social. Por causa do que viu e viveu, ela reage com ironia à resistência desses ideais, sem deixar de ser idealista.
O pequeno papel da diretora no drama também permite mapear o desajuste entre as leis e a realidade, a entender a situação contemporânea de Cuba sem a confusão provocada pelas paixões ideológicas.
Daranas retoma um método aplicado por Manoel de Oliveira, Vittorio De Sica e Luis Buñuel, entre tantos outros que tomaram emprestado o ponto de vista infantil para enxergar com outro olhar a crueldade da realidade.
Sem deixar de lado a fantasia, "Numa Escola de Havana" mostra o que sobrou do projeto comunista tropical e nos impede de visitar a ilha como turistas.
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