14ª edição da Bienal de Istambul começa com fórmula nada secreta
Mesmo quando faltavam alguns dias para começar, a Bienal de Istambul ainda se desenhava como um grande ponto de interrogação. À frente desta 14ª edição, que acontece até 1º de novembro, a norte-americana Carolyn Christov-Bakargiev se recusou a anunciar uma lista de nomes que estariam no evento.
Uma exposição do tipo sem um elenco revelado não diz muito a que veio, já que burla as apostas que se formam em torno de cada bienal, com o mercado tentando especular quem vai estourar e a crítica pesando quem merece.
Numa trajetória polêmica, esse é mais um truque de Chr-istov-Bakargiev na tentativa de desviar o foco das artes visuais do ego de seus protagonistas para as obras que constroem. Já sabidos os nomes, no entanto, tudo parece um pouco mais do mesmo, o que no caso dessa curadora não significa pouca coisa.
Fabio Cypriano/Folhapress | ||
Instalação de Adrian Villar Rojas exibida na Bienal de Istambul |
Estão lá autores fortes que já figuraram em outras mostras de Christov-Bakargiev, como o argentino Adrián Villar Rojas, a egípcia Anna Boghiguian, a canadense Janet Cardiff, o sul-africano William Kentridge e o brasileiro Cildo Meireles.
Essa repetição se deve a uma fórmula nada secreta. "Sempre que faço uma exposição tento reservar um terço do espaço para os artistas que já trabalham comigo, um terço para nomes do lugar onde a mostra acontece e outro terço para artistas emergentes", diz Christov-Bakargiev.
Depois de comandar há três anos uma aclamada edição da Documenta, em Kassel, na Alemanha, e subir ao Olimpo do mundo da arte, a americana passou os últimos anos em reclusão, dando aulas em Harvard, Northwestern e outras universidades de prestígio nos EUA.
O exílio acadêmico só reforçou sua inclinação por abrir o mundo da arte a outras disciplinas, tendência em instituições do mundo todo –em São Paulo, o Masp nomeou há pouco a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz como uma de suas curadoras.
"Estive imaginando como criar um sistema de exposições em que a arte possa fazer uma ponte com a ciência", diz Christov-Bakargiev. "É uma forma de ver os museus do futuro."
Mas ela não deixa de olhar o passado, em especial numa cidade como Istambul, atravessada por intensos fluxos migratórios e culturais ao longo da história.
Talvez por isso, refletindo a visão de uma metrópole cindida entre Europa e Ásia, ela tenha espalhado a mostra por toda a cidade turca, obrigando visitantes a cruzar o Bósforo de barco o tempo todo.
Uma das imagens que usou para sintetizar a exposição, aliás, é o desenho instável das ondas do mar, abrindo espaços para a reflexão sobre questões tão díspares quanto o genocídio armênio, tema que neste ano completa cem anos, e o art nouveau turco.
"Fiquei pensando na imagem das ondas e dos nós, a ideia de um nó como coisa traumática", diz Christov-Bakargiev sobre o conceito. "Pensei em todos os artistas como parte de uma constelação que forma essa Bienal."
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