Peça 'TempoNorteExtremo' recria conflitos de jornalista na Amazônia
O jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, 66, tem um punhado de inimigos espalhados pelos Estados que a floresta Amazônica corta, no Norte do país.
Sociólogo formado em 1973 pela Escola de Sociologia e Política do Estado de São Paulo, ele tem mais de 40 anos de carreira dedicados a questões políticas e ambientais.
Desde 1987, foi alvo de mais de 30 ações movidas na Justiça principalmente por políticos e empresários insatisfeitos com informações publicadas em seu "Jornal Pessoal", premiado tabloide quinzenal que recusa anúncios publicitários em nome de independência editorial.
A trajetória do jornalista e autor de livros como "O Jornalismo na Linha do Tiro" (ed. Jornal Pessoal, 2006), sobre a atividade de grileiros e madeireiros na Amazônia, é revista agora em "TempoNorteExtremo", espetáculo documental escrito e interpretado por seu irmão caçula, o paraense Paulo Faria, da companhia Pessoal do Faroeste. Com direção de Edgar Castro, a montagem entra em cartaz na sede do grupo.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Os atores Paulo Faria e Neusa Velasco em 'TempoNorteExtremo' |
A peça passa por dados biográficos de Pinto –inclusive pela história do pai, que se dedicou à política e foi prefeito de Santarém (PA) nos anos 1960– mas se concentra em questões da profissão.
Entre os opositores retratados pela peça está o empresário Rômulo Maiorana Júnior, tema de um artigo do "Jornal Pessoal", intitulado "O Rei da Quitanda". Nele, o "executivo do maior grupo de comunicação do Norte do país" (referência às organizações Rômulo Maiorana, que controlam jornais e TVs) é retratado como uma figura esbanjadora, manipuladora e blasé.
Trecho do texto publicado em 2005 fala da casa que estava sendo construída por Maiorana à época, uma mansão "com requintes hollywoodianos". Há dois anos, a Justiça condenou o autor do texto ao pagamento de R$ 410 mil indenizatórios ao empresário e à empresa Delta Publicidade S/A, propriedade da família de Maiorana.
Na peça, Faria narra uma reação física violenta que teria sido cometida por Rômulo contra Pinto. O dramaturgo e ator leva também a ideia de que o número de ações na Justiça contra o irmão é uma maneira de censura. "Eles têm impedido o Lúcio de investigar casos na Amazônia, pois ele passa metade de seu tempo preparando sua defesa.".
Em um segundo momento do espetáculo, Faria divide a cena com a atriz Neuza Velasco e desloca o eixo da peça para um drama familiar centrado na figura da mãe que adoeceu vítima de Alzheimer. O segundo quadro também se dedica a retratar a relação de Pinto com a mãe, que morreu em 2013.
"TempoNorteExtremo" faz parte de um projeto de trilogia que, por meia da trajetória da família de Faria e de Pinto, busca retratar uma Amazônia "que poucos em São Paulo conhecem".
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