crítica
Crônica sobre Pablo Picasso se perde em roteiro confuso
O diretor espanhol Fernando Colomo tem especial talento para a comédia. Em "Picasso e o Roubo da Mona Lisa", ele usa o humor numa trama inspirada em um fato real: o sumiço da "Mona Lisa" do Museu do Louvre, em Paris, em 1911. O resultado não é exatamente uma comédia, mas um desfile de pintores, boêmios, escritores e mecenas.
A crônica da investigação do roubo não é o centro das atenções, e o episódio logo é tratado como anedota.
Colomo, que também assina o roteiro, prefere dar espaço à agitada atmosfera que envolvia a criação artística na Paris da época, com exposições em galerias de arte, reuniões em bares e salões mundanos, além dos labores pictóricos nos ateliês dos artistas.
Paralelamente, a narrativa alinhava a relação de Picasso (Ignacio Mateos) –ainda pouco conhecido– com seu círculo social mais próximo: a musa Fernande Olivier (Raphaëlle Agogué), com quem briga o tempo todo, e amigos como o escritor Guillaume Apollinaire (Pierre Bénézit, excelente), o escultor Manolo Hugué (Jordi Vilches), o escritor e poeta Max Jacob (Lionel Abelanski) e o pintor Georges Braque (Stanley Weber).
Divulgação | ||
Ignacio Mateos (Picasso) e Raphaëçe Agogué (Fernande Olivier) em 'Picasso e o Roubo da Mona Lisa' |
Em torno deles, surgem figuras como a escritora Gertrude Stein –de quem Picasso fez um retrato famoso– e o pintor Henri Matisse, que não tinha afinidade alguma com o cubismo, estética que Picasso acabara de criar.
Apollinaire é preso e processado por suposto envolvimento no roubo, mas acaba solto, enquanto Picasso presta depoimento à polícia.
Também pintor, Colomo não hesita em manifestar sua admiração por Picasso, o que fica evidente no destaque ao quadro "As Senhoritas de Avignon" (1907), obra inaugural do cubismo.
Mas o retrato de Picasso é pouco profundo e nada lisonjeiro: ele é desconfiado, mesquinho, machista. Quem brilha é Apollinaire, caracterizado com mais nuances, tornando-se personagem central.
O grande problema do filme é a falta de coesão da narrativa. O motivo do roubo se desvanece, o relato dá saltos no tempo que podem confundir o espectador e novos personagens vão aparecendo, sempre relacionados com fatos da vida de Picasso. O roteiro não desenvolve esses fatos e personagens secundários. Tudo gira em falso e avança de maneira errática.
Nem o contexto histórico e artístico da efervescente Paris do início do século passado é bem apresentado, o que pode dificultar as coisas para quem não conhece um pouco de história da arte.
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