Masp exibe avessos de imagens produzidas em fotoclube de SP
Em 2010, a artista Rosângela Rennó reuniu cerca de cem fotografias recuperadas após um furto de 751 imagens da Fundação Biblioteca Nacional, no Rio. A pesquisa originou o livro "2005-510117385-5" –o título é o número do inquérito policial–, no qual Rosângela exibe apenas o verso das imagens, colocando ênfase na fragilidade do objeto.
Não é de estranhar, portanto, que na primeira exposição como curadora adjunta de fotografia no Museu de Arte de São Paulo, função que assumiu há menos de um ano, Rosângela tenha posto destaque no verso de algumas obras.
Em "Foto Cine Clube Bandeirante: Do Arquivo à Rede" estão expostas 279 fotografias de 85 artistas, todos ex-integrantes do fotoclube fundado em 1939, em São Paulo, e que chegou a contabilizar no início mais de 600 membros. Hoje, são 160 associados.
As imagens, com exceção de quatro doadas ao museu, foram cedidas em comodato por 50 anos –após o período, serão integradas à coleção do Masp. Elas incluem trabalhos de autores menos conhecidos e registros de pioneiros na fotografia moderna brasileira, como Thomaz Farkas (1924-2011), Geraldo de Barros (1923-1998) e German Lorca, hoje com 93 anos.
De obras renomadas como "Circo de Cavalinhos" e "Le Diable au Corps", de Lorca, no entanto, só é possível ver os carimbos e as etiquetas que mostram, no avesso, os salões nos quais foram exibidas.
O mesmo acontece com "Detalhe", de Farkas, da qual veremos que esteve no London Salon of Photography, em 1953, e no Salón Internacional de Fotografía Artística, no Uruguai, em 1945.
INTERCÂMBIO
Dois terços das imagens selecionadas serão mostrados. O restante será visto pelo avesso –uma legenda de cada fotografia trará uma reprodução pequena da parte ocultada.
"Quis ressaltar a importância do fotoclube e o que ele priorizava como ensino e intercâmbio. E o ponto mais importante era a exibição em salões", explica a curadora.
Apesar de ter na produção de imagens uma forma de lazer, o fotoclubismo era marcado pela competição, com concursos internos e divisões hierárquicas entre os fotógrafos, que ganhavam pontos conforme os trabalhos eram aceitos e premiados nas exibições.
O verso do papel, nesse sentido, funciona como o passaporte da imagem, destacando lugares pelos quais a fotografia passou. Um mapa na sala da mostra dá a dimensão desse percurso, com os locais onde as 279 imagens aportaram: de Pequim a Vancouver.
Antes de começar a pesquisa, Rosângela não tinha ideia de que o projeto de integração entre os clubes era tão extenso, com imagens que chegavam a circular por mais de uma década. "O fotoclubismo foi essencial para a disseminação da fotografia e formação de profissionais. A exposição é uma forma de mostrar esse material de maneira mais ampla", diz.
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