CRÍTICA
'Gurre-Lieder' foi o grande concerto da Osesp no ano
Com a apresentação da "Sinfonia n.4", de Mahler (1860-1911), e trechos do oratório "O Messias", de Haendel (1685-1759), a Osesp faz neste sábado (12), na Sala São Paulo, o último concerto da temporada. No domingo (13), a orquestra ainda toca de graça na Praia do Gonzaga, em Santos.
Ter uma temporada como a da Osesp é, hoje, a meta das principais orquestras brasileiras e latino-americanas. A busca de qualidade em cada espetáculo amarra-se com a quantidade e a diversidade obtidas na soma das experiências ao longo do ano.
Desde 2012 as temporadas são norteadas por um tema principal. "Lugares da Música", o foco de 2015, foi a riqueza das experiências espaciais, internas e externas.
Marin Alsop, a regente titular, seguiu em seu ciclo pessoal de sinfonias de Mahler (abriu com a "Quinta" e fechou com a "Quarta"). No meio do ano (e na abertura do Festival de Campos do Jordão) regeu "Os Planetas", de Holst (1874-1934), música que busca o som de lugares para além de nosso mundo sublunar.
Natália Kikuchi/ Divulgação | ||
Marin Alsop rege a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) na Sala São Paulo, na pré-abertura do 46º Festival de Inverno de Campos do Jordão |
O grande concerto do ano foi indubitavelmente o "Gurre-Lieder", parte de um ciclo dedicado à música de Arnold Schoenberg (1874-1951). Regido por Isaac Karabtchevsky, a monumental obra marcou o ano tanto pelo que foi quanto pelo que suscitou.
Karabtchevsky foi o protagonista de outros momentos marcantes em Villa-Lobos (1887-1959) e Stravinski (1882-1971). Já o finlandês Osmo Vänskä fez um concerto extraordinário com as sinfonias 6 e 7 de Sibelius (1865-1957), no qual estreou também uma das mais bem sucedidas obras encomendadas nos últimos tempos, "A Rua dos Douradores", do paulistano Aylton Escobar.
O ponto negativo foi o número acima da média de cancelamentos de convidados –geralmente por motivos de saúde. Alguns deles bem importantes, como o compositor John Adams, o regente Louis Langrée, o barítono Matthias Goerne e o artista em residência Arnaldo Cohen.
No último concerto, a música foi deslocada para as regiões celestes: a canção "A Vida Celestial", que contou com a bela voz de Tamara Wilson, fecha a obra de Mahler e abre caminho para "O Messias".
Mahler foi tocado com a musicalidade e minúcia de um grupo maduro dirigido com maturidade. Haydn (1732-1809) pareceu inspirar o primeiro movimento, Beethoven (1770-1827) o segundo, Wagner (1813-83) o terceiro e o próprio Mahler o quarto.
Se as madeiras foram impecáveis em Mahler, os coros foram extraordinários em Haendel. Não parece haver diferença entre o Coro da Osesp (regido por Naomi Munakata) e o Coro Acadêmico da Osesp (dirigido por Marcos Thadeu), tamanha a homogeneidade.
O "Aleluia" final marca a passagem do "ano do espaço" para o "ano do tempo": fim de "Lugares da Música", preparação para "Estado de Escuta", o tema de 2016, "para acolher os sons, para nos dar um tempo, para nos dar o tempo", como diz o texto de apresentação do diretor artístico Arthur Nestrovski.
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