Breve guia de oito textos para (tentar) entender a misteriosa Coreia do Norte
Bomba de hidrogênio, sushi de ouriço, um monstro que se alimenta de ferro. E também um executivo suíço e duas americanas com veneno entre os dentes e sangue nos olhos.
Quando se busca entender a Coreia do Norte –que anunciou nesta semana a explosão de uma suposta bomba H, é preciso se defrontar com todo tipo de artefatos bizarros e personagens que habitam as sombras. Sob o déspota Kim Jong-un, ninguém é o que diz ser, todos desconfiam de todos. Parece uma realidade paralela –e é.
No mundo dos livros e dos textos on-line, difícil encontrar um retrato isento e definitivo do país. A ditadura impõe muitas restrições a quem tenta entendê-la. Estrangeiros são espionados o tempo todo. Mesmo os norte-coreanos não podem se mover livremente.
Assim, relatos de altos funcionários ocidentais, em geral diplomatas, são enviesados porque eles quase nunca conseguem ver algo além da capital, Pyongyang, disparada a área mais próspera (ou menos miserável) do país.
Necessário, também, considerar a parcialidade dos poucos jornalistas/escritores que conseguem entrar no país. Uma vez lá dentro, eles são tão vigiados que dificilmente acabam mudando as opiniões negativas de antes de viajar. Quando voltam, cospem fogo contra o reino eremita da dinastia Kim. Mas nem tudo são trevas. Aqui e ali, encontramos quem lance luzes sobre esse país tão isolado. Abaixo, uma seleção de livros e textos (alguns, infelizmente, em inglês) sobre aquela que talvez seja a nova pátria da bomba de fusão nuclear.
NETFLIX
A Netflix estreia "The Propaganda Game", do diretor espanhol Alvaro Longoria, segue uma equipe de filmagem em busca de como seria a vida real dos norte-coreanos em 2014. Tem algumas cenas memoráveis, mas acaba deixando mais perguntas que respostas.
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Em 1986, um inglês recém-formado responde a um anúncio de "procura-se tradutor". Quando vê, está trabalhando na Coreia do Norte, como revisor das versões em inglês dos textos da propaganda oficial. Paranoia, medo, delações. Harrold passou seis anos nesse esquema.
Diversas bizarrices do regime de Kim Jong-il, pai do atual ditador, como sequestrar um diretor sul-coreano para que ele dirigisse o filme "Pulgasari", sobre um monstro assassino que se alimenta de ferro (o longa: youtu.be/eCKSR0JArUQ).
Sem se identificar como repórter, Marcelo Abreu conseguiu viajar sem tanta vigilância do Estado. Mas não foi fácil fugir das situações de falsa harmonia montadas para estrangeiro ver.
Relato raríssimo de um fugitivo de um campo de trabalhos forçados para prisioneiros políticos. Recentemente, o coreano admitiu alguns exageros.
A imagem dominante no ocidente, dos norte-coreanos como zumbis desinformados e famélicos. Foi o primeiro a focar em pessoas comuns, que fugiram pela China.
Kim Jong-il viu na TV um belo sushi de ovas de ouriço e mandou Fujimoto (que alega ter sido o "personal sushiman" do ex-ditador) voar até o Japão para trazer um igual. O chef não voltou.
A sul-coreano-americana Suki Kim se inscreveu para ensinar na universidade que uma ONG cristã montava em Pyongyang. E foi aceita! Ela ama os alunos, de tão ingênuos. Mas também os odeia, por serem tão mentirosos.
O suíço chefiava uma multinacional com negócios na Coreia do Norte. A empresa saiu, ele ficou e abriu uma fábrica de produtos farmacêuticos com o governo. Muito ativo em redes socais, desconfiado e brigão.
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR é chefe de redação e repórter do "Fantástico".
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