Longa bíblico atualiza imagem de Jesus, mas conta história batida
Enquanto a espetacular bilheteria de "Os Dez Mandamentos" demonstra os poderes superiores dos bispos da Universal, a estreia de "Ressurreição" revela como as igrejas, que há tempos transformaram as salas de cinema em templos, agora querem ocupar as telas como púlpitos.
No material de imprensa, a Affirm Films, empresa do grupo Sony e produtora do filme, é apresentada como "dedicada à produção, aquisição e distribuição de filmes baseados na fé que inspiram, emocionam e divertem o público".
Para isso, usa uma artilharia que faz lembrar o título de um filme brasileiro recente: "Se Deus Vier que Venha Armado".
A princípio, esta produção norte-americana não tem nada do que já não vimos tantas vezes nos filmes bíblicos, apenas uma aparência modernizada combinada com o tipo de trama de investigação comum nas séries policiais.
A clássica imagem de Jesus é atualizada para os tempos da diversidade e ele aparece com aparência de mouro, assim como alguns dos apóstolos.
Já o hiper-realismo da crucificação, a violência da repressão romana e a representação negativa dos sacerdotes judaicos na condenação retomam o que Mel Gibson explorou no indigesto "A Paixão de Cristo".
"Ressurreição" pretende se diferenciar no ângulo que adota para reconstituir uma história que todo mundo conhece. O filme é narrado da perspectiva de Clavius, soldado romano ordenado por Pilatos a vigiar para que o corpo de Cristo não desapareça da tumba e dê origem à crença na ressurreição.
À medida que investiga o sumiço, Clavius aproxima-se dos seguidores do cristianismo e incorpora-se a esta comunidade religiosa marginal, temida como subversiva por romanos e judeus. A jornada do herói torna-se assim processo de conversão e força o espectador a fazer o mesmo movimento da descrença à crença.
Só que a condução do filme por Kevin Reynolds, especialista em tramas de ação, focaliza apenas o aspecto espetacular e as locações imponentes da Espanha. Jesus mesmo só ganha atenção quando começa a fazer milagres.
Assim, tal como seu irmão brasileiro novo rico, "Ressurreição" resume o poder da fé à capacidade do público de confiar nos efeitos especiais.
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