CRÍTICA
Sorrentino flagra ruptura de amizade entre maestro e cineasta
Começando pelo começo: é constrangedor, para não dizer vergonhoso, que uma distribuidora se disponha a lançar um filme, qualquer filme, em São Paulo sem promover uma projeção para a imprensa.
Tanto pior se o filme for de Paolo Sorrentino, talvez o mais relevante diretor de sua geração na Itália, e se "Juventude" concorreu à Palma de Ouro e ao Oscar de filme em língua estrangeira.
Divulgação | ||
O maestro Fred Ballinger (Michael Caine) e o ator Jimmy Tree (Paul Dano), personagens de 'Juventude' |
Em troca, o que recebemos foi a duvidosa honra de assistir ao filme via link da internet. O filme, em Cinemascope, não é visto em sua dimensão original, pois cortado nas laterais (há momentos em que dois personagens que conversam estão fora de quadro).
O corte também atinge a dimensão vertical, de modo que temos um filme onde as cabeças estão não raro cortadas.
Dito isto, aquilo que se consegue ver, estamos diante de um filme pelo menos decente, onde se trata de um maestro aposentado, Fred Ballinger (Michael Caine), atualmente retirado num hotel dos Alpes suíços, que recebe uma oferta da rainha da Inglaterra para reger uma música sua numa ocasião solene.
Ballinger se nega. Diante da insistência dos emissários, alega motivos pessoais. Próximo dele estão sua filha Lena (Rachel Weisz) e o velho cineasta Mick Boyle (Harvey Keitel). Este, acompanhado por um grupo de roteiristas, escreve o roteiro daquele que pretende que seja seu testamento artístico.
Um incidente: a separação de Lena, abandonada pelo filho de Mick. A relação entre os dois amigos não se altera, mas algo se define a partir de então: do lado de Fred os sentimentos parecem estar enterrados há muito tempo. Talvez desde sempre.
É essa separação que despertará a necessidade do maestro de juntar as pontas de sua existência. É a essa operação que o filme, de certa forma, vai se dedicar, a partir de uma narrativa fragmentária (dividida entre os três personagens centrais).
Seu mérito maior será remontar a vida e os problemas do velho maestro sem recorrer ao recurso um tanto covarde do flashback. É no presente que buscará suas respostas. É o presente, no mais, que revelará a superficialidade quase completa da longa amizade com o cineasta.
Um dos aspectos que desequilibram o filme é o pouco interesse do personagem de Keitel, na maior parte do tempo apenas apoio para o maestro. Mesmo o fora que leva de sua estrela favorita, Brenda Morel (Jane Fonda), não tem rendimento dramático.
A partir desses desequilíbrios, e até onde foi possível ver, esse filme que, de resto, aproveita-se muito bem da paisagem, pode-se entender bem a atual crise de público do chamado "filme de arte".
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