crítica
Filme 'O Dono do Jogo' mescla 3 narrativas, mas não as desenvolve
Bobby Fischer não é um personagem fácil. Nele convivem o paranoico, o gênio do xadrez e o pião da Guerra Fria. É a esses três aspectos que "O Dono do Jogo" procura, fundamentalmente dar forma.
O roteiro procura não complicar as coisas, o que é bom: temos a evolução de Fischer desde a condição de menino prodígio até a de grande desafiante do poder dos russos no xadrez. Nesse meio tempo Bobby cresce e, com ele, as manias e a paranoia.
É bom, mas nem sempre: a filiação comunista da mãe, o fato de não saber quem era seu pai, são aspectos marcantes da história pessoal de Fischer, o filme as aborda e as abandona.
No primeiro momento, o que importa a "O Dono do Jogo" é a construção do mito: o menininho de temperamento difícil, que derrota adultos cheios de categoria, mesmo sem nunca ter aprendido o jogo formalmente.
O segundo é o do surgimento das manias, muitas: a crença de que os russos o vigiam todo o tempo,. Esse momento coincide de certa forma com a percepção de que ninguém dá bola para o xadrez nos EUA.
Existe, por fim, o enxadrista genial, uma espécie de Muhammad Ali do tabuleiro. Como único americano de destaque, ele se tornará um pião relevante da Guerra Fria. Já que o xadrez era uma arma de propaganda soviética, que tal usar Fischer para fazer a propaganda do mundo capitalista?
Como o tempo demonstra que Fischer pode mesmo se tornar o maior, chegamos ao ponto chave: seu enfrentamento contra Boris Spassky, o então campeão mundial. Nesse ponto, Edward Zwick faz o que pode para dar a impressão de que estamos num "Rocky "" Um Lutador", mas não estamos.
Divulgação | ||
Liev Schreiber e Tobey Maguire em cena de 'O Dono do Jogo' |
Para contornar o problema, Zwick se vale um pouco da celebridade alcançada por Fischer e de suas aparições na TV.
Como se vê, a riqueza do personagem contém na verdade três filmes diversos, e esse segue sendo o problema principal do filme: nenhum deles acaba sendo convenientemente desenvolvido. Assim, o lado Guerra Fria (nada desprezível) é quase anulado pela personalidade paranoica de Fischer. Da mesma forma, sua vida familiar, abordada no início, desaparece em seguida.
Pode-se dizer que o filme, por conter três narrativas distintas, e cada uma delas rica em si, termina por não estabelecer devidamente a ligação entre elas.
Existe um problema adicional: embora se pareça com Fischer, Tobey Maguire, por mais que se esforce, ainda parece muito mais com o Homem-Aranha, e deixa a impressão de que, a qualquer momento, pode dar um salto espetacular e lançar sua teia.
Resumindo: um desses filmes que se vê com agrado, tal a riqueza da história, mas com a percepção, todo o tempo, de que não conseguiu unir todos os dados para compor um conjunto.
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