crítica
'Gritos e Sussurros' é a perfeita adaptação do estilo à dramatização
Os filmes clássicos restaurados que têm voltado ao circuito servem também para que as novas gerações de diretores aprendam a filmar melhor.
Para que percebam a força do ator e da encenação e a maneira como esses filmes geralmente demonstram uma perfeita adequação do estilo ao drama encenado.
Nesses sentidos, e em outros tantos, "Gritos e Sussurros" (1972), que inaugura a fase madura de Ingmar Bergman, é exemplar.
Aqui não temos a explosão de cinema moderno de "Persona" (1966), ou a exacerbação do desejo de "O Silêncio" (1963), ou mesmo a delicadeza poética de "Morangos Silvestres" (1957).
Mas "Gritos e Sussurros" tem a força dessas obras-primas e, como elas, é um filme em que a espiritualidade e o sofrimento humanos são compreendidos e representados em toda a complexidade.
Agnes está com câncer terminal. Ela recebe a atenção e os cuidados de suas duas irmãs e da empregada da família, num casarão que remete a fortes lembranças do passado.
Divulgação | ||
Cena do filme 'Gritos e Sussurros' |
Como sempre em Bergman, o elenco é irrepreensível. Agnes é interpretada pela musa Harriet Andersson, que em 1952 encantava os cinéfilos como a sensual protagonista de "Mônica e o Desejo", do mesmo diretor. Suas irmãs são Liv Ullmann e Ingrid Thulin, atrizes bergmanianas por excelência.
Kari Sylwan, excepcional atriz de poucos filmes, é Anna, dedicada empregada responsável pelo conforto que as irmãs, com seus problemas, são incapazes de dar a Agnes. Também no elenco outro ator bergmaniano: Erland Josephson como David, o médico.
É um estudo em vermelho que Bergman promove com a ajuda de seu habitual diretor de fotografia, Sven Nykvist. Vermelho do sangue, mas também da alma, como o próprio Bergman gostava de dizer.
O corpo de Agnes está morrendo, mas sua alma sobrevive. Suas irmãs, por outro lado, parecem aprisionadas pelo ressentimento e pelos traumas do passado. Falta a elas a vivacidade que sobra em Anna.
As belas palavras do grande crítico português João Bénard da Costa (1935-2009) são a respeito de outra obra, mas cabem perfeitamente a "Gritos e Sussurros": "O fundamental é a vida; a vida continua sempre; é de vida que fala este filme de morte".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade