crítica
Falta estilo a Natalie Portman em estreia como diretora
De todas as áreas de atuação cinematográfica, a que rende algumas das melhores passagens para a direção é a de ator. Fica atrás apenas da crítica, como nos mostram, entre muitos outros, Peter Bogdanovich, Glauber Rocha e grande parte dos diretores da Nouvelle Vague.
Entre atores que passaram com sucesso para a direção podemos destacar o trio de belos de Hollywood: Clint Eastwood, Robert Redford e Paul Newman. Ou John Cassavetes, que sedimentou as bases para o cinema independente americano com "Sombras", de 1959.
Entre as atrizes, dois nomes brilham: o de Ida Lupino, que realizou ao menos cinco obras essenciais dos anos 1950, e o de Kinuyo Tanaka, protagonista de filmes de Kenji Mizoguchi que se tornou a primeira diretora de cinema do Japão. Mesmo Angelina Jolie, após um mau começo, evoluiu para o interessante "À Beira Mar", em que atua ao lado de Brad Pitt.
Este preâmbulo visa dinamitar o preconceito que possa haver quando nos deparamos com uma estrela que vai para trás da câmera. É possível ouvir o papo de que, se uma atriz é jovem e bonita, dificilmente poderia ser boa diretora (eu mesmo já ouvi isso algumas vezes de cinéfilos).
Divulgação | ||
Natalie Portman em cena do filme 'De Amor e Trevas' |
Com "De Amor e Trevas", uma adaptação do célebre livro autobiográfico do escritor israelense Amós Oz, a também israelense Natalie Portman estreia na direção.
Sabemos que Portman é inteligente e politizada. Basta ler suas entrevistas. Ela tem algo essencial para ser cineasta: a consciência de sua condição no mundo e uma profunda inquietação com o que nós fazemos desse mundo.
Por isso mesmo é tão decepcionante esta adaptação, recebida internacionalmente com frieza ou críticas pouco entusiasmadas.
É uma história narrada do ponto de vista do menino Amós Oz, vivido aqui pelo estreante ator mirim Amir Tessler. Portman atua como sua mãe, Fania. Estamos no contexto da ascensão do nazismo, quando muitos judeus fugiram para a Palestina, um conflito religioso que daria origem ao Estado de Israel.
A intenção é nobre: valorizar uma mulher inconformada com as injustiças do mundo. Mas Natalie Portman cai em armadilhas das produções edificantes: música grandiloquente ou sensível, pompa artística e ausência completa de estilo. Dela, pode-se esperar muito mais.
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