crítica
Extraído à força de um jogo para celular, 'Angry Birds' funciona
Passarinho, que som é esse? É o som de uma franquia arrancada a fórceps de um jogo de celular transformado em filme, se estivermos falando de "Angry Birds: O Filme", que estreia nesta quinta (12) em mais de mil salas do país.
Um dos aplicativos pagos mais bem-sucedidos da história, "Angry Birds" chegou a valer US$ 6 bilhões com uma lógica simples: o jogador tinha de catapultar pássaros para cima de porquinhos verdes e malignos. Virou parque de diversões antes de virar filme.
O intervalo de sete anos entre o jogo e o do filme foi tão longo porque o projeto foi apreciado como deveria, disse a empresa –ocultando o sucesso de outro filme nascido dos brinquedos, "Lego", de 2014.
A espera valeu, pelos olhos. Esteticamente o filme é primoroso. Os cenários são vivazes e complexos e os personagens têm um acabamento superior ao de concorrentes como Pixar –obra de Clay Katis e Fergal Reilly, que animaram para Disney e Warner antes de ir ciscar no novo projeto.
O uso de 3D quase parece ser para outro intuito que não dobrar o valor do ingresso, em sequências como a em que os personagens fazem nado sincronizado. Mas era de se esperar beleza na computação gráfica de uma firma que nasceu fazendo computação gráfica.
Divulgação | ||
As aves protagonistas da animação 'Angry Birds: O Filme' |
O perigo morava em como criar uma história para um jogo nonsense sem narrativa. Mas o roteiro de Jon Vitti ("Simpsons") consegue fazer uma corda bem trançada a partir do fiapo de história que era o joguinho para telefones.
Em vez de encaixar a história na lógica simples (e viciante) da brincadeira, a produção optou por dar mais espaço para o mundo dos pássaros e suas personalidades.
O protagonista Red poderia ser um tipo de carne e osso, com sua histeria escondida sob sobrancelhas de Monteiro Lobato. Com comportamento e preocupações humanas, as aves se deparam com mazelas contemporâneas como glúten, selfies e ser VIP em festas. Tanto que o conflito que culmina na ação do jogo fica restrito ao terço final do filme –e não é seu melhor momento.
As dublagens em português funcionam na maioria dos casos. Fábio Porchat parece ter encontrado seu melhor papel no cinema na sua versão com penas: Chuck é um pássaro alucinado que não consegue segurar sua franga. Cada piada e berro do humorista mais workaholic do entretenimento nacional provoca risos.
O mesmo não vale para Dani Calabresa, que parece subaproveitada como Matilda, a professora galinácea do curso de autoajuda para controle de raiva a que o protagonista é condenado depois de um quase infanticídio acidental.
Cacos como colocar bordões do apresentador Fausto Silva na boca de um dos porcos também são bem-vindos, e pontas de erotismo disfarçado garantirão risadas de pais que ficam fora do alcance do público infantil.
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