crítica
Romance lésbico ganha força na velha fórmula do melodrama
Depois de "Azul é a Cor Mais Quente", é preciso ter um tanto de coragem para fazer um filme francês sobre um romance lésbico.
Na comparação, ele provavelmente parecerá menos intenso e causará menos impacto do que a obra de Abdellatif Kechiche, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2013 e catapultou ao estrelato suas protagonistas, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux.
Pois Catherine Corsini ("3 Mundos", "Partir") teve essa ousadia ao dirigir "Um Belo Verão" –e "pagou" por ela. No início, a lembrança de "Azul" é inevitável e francamente desfavorável ao novo filme, bem menos quente e mais convencional que o primeiro.
Aos poucos, porém, fica claro que a comparação é também injusta. Porque, se há um parentesco temático entre as duas obras, suas propostas são bastante distintas.
Para começar, "Um Belo Verão" é um filme de época, passado em 1971 –momento de liberação sexual e explosão do feminismo no mundo todo e, em particular, na França. Os ventos de mudança, porém, chegam antes a Paris do que ao resto do país.
Filha de um fazendeiro de Limousin, Delphine (Izïa Higelin) vê seu caso secreto com uma moça da região terminar quando esta decide se casar com o noivo.
Divulgação | ||
Cena do filme "Um Belo Verão", de Catherine Corsini |
Delphine resolve, então, se mudar para Paris. Ali conhece Carole (Cécile de France), professora de espanhol que vive com o namorado e lidera um grupo feminista.
Logo as duas se apaixonam. Carole hesita a princípio, mas abandona o namorado para viver o novo amor.
Quando o pai de Delphine sofre um derrame, ela volta à fazenda –e Carole vai atrás. Mas as duas fingem ser apenas amigas diante da mãe da primeira (Noémie Lvovsky) e da comunidade local.
O leitmotiv do filme é a oposição entre a garota camponesa que sabe o que é, mas não consegue se assumir, e a mulher cosmopolita que se descobre tardiamente, mas não aceita ficar no "armário" com a companheira.
Essas contraposições (entre campo e capital, entre libertação e convenção) são trabalhadas de forma um tanto esquemática por Corsini. Mas a história de amor e preconceito acaba por se impor, principalmente pelo belo trabalho de Higelin e De France.
"Um Belo Verão" é um filme político, encara o feminismo no momento de sua erupção na França. Mas o que o torna especial é mesmo a velha matéria do melodrama: duas pessoas que tentam se amar quando o mundo não deixa.
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