CRÍTICA
Isabelle Carré faz tímida perfeita com a graça triste dos clowns
Divulgação | ||
Cena do filme "Esperando Acordada" |
Como já havia demonstrado em "Românticos Anônimos" (2010) e volta a comprovar agora em "Esperando Acordada", a francesa Isabelle Carré é perfeita para papéis de tímidas patológicas. Ela sabe transmitir, como poucas atrizes hoje, a vulnerabilidade extrema daqueles que se escondem do mundo.
Aqui, ela interpreta Perrine, violinista amadora, insegura e solitária, que ganha a vida tocando em festas infantis e lares para idosos. No começo do filme, ela está às voltas com o problema de um rato que apareceu em sua casa. Quer se livrar dele, mas não matá-lo.
Assim é Perrine: incapaz de fazer mal a alguém. E, no entanto, certo dia inadvertidamente causa um acidente que leva um desconhecido a um coma. Sentindo-se culpada, passa a visitar o homem no hospital, a tocar violino para ele, a conversar com ele.
Antes que o filme se torne uma versão diet de "Fale com Ela" (2003), de Pedro Almodóvar, "Esperando Acordada" toma o rumo da comédia de erros.
Por uma série de acontecimentos fortuitos, Perrine vai assumindo o lugar do homem em coma: descobre que ele é professor de música em uma escola e assume a vaga como substituta; invade sua casa para cuidar do cachorro e, sem contar sobre o acidente, acaba tomando conta do filho dele.
O desenrolar do enredo é um tanto previsível: experimentando a vida de outro, Perrine conseguirá se libertar de si mesma, de sua timidez.
Apesar disso, o filme cresce ao longo da projeção, ao trocar gradativamente o tom realista pelo fabular, aproximando-se de um conto de fadas moderno no final. Quanto mais inocente, mais interessante o filme se torna.
Essa equação só funciona por causa de Carré, que está presente em quase todas as cenas. Bons coadjuvantes, como Carmen Maura, aparecem para servir de escada para a protagonista, sem acrescentar muito.
Em seu primeiro longa-metragem, Marie Belhomme se revela uma diretora convencional, inteligente o suficiente para valorizar o trabalho e a figura de sua atriz principal (que também já mostrou que vai bem em dramas como "O Refúgio" e "A Linguagem do Coração").
A Perrine de Carré tem a graça triste dos clowns. E, nesse sentido, ela tem muito da Gelsomina e da Cabíria de Giulietta Masina (1921-1994) em, respectivamente, "A Estrada da Vida" (1954) e "Noites de Cabíria" (1957), de Fellini. A comparação entre filmes pode ser injusta, mas não o paralelo entre suas atrizes.
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