Crítica
Autora desdobra temas diletos em livro adulto e em infantil
No Brasil como em outros países, o sucesso da Série Napolitana impulsionou a publicação dos romances anteriores de Elena Ferrante.
Depois de "Dias de Abandono", publicado pela mesma Biblioteca Azul que lança aqui a tetralogia, chegam no fim desta semana, pela Intrínseca, "A Filha Perdida" e "Uma Noite na Praia".
O segundo, destinado a crianças, é uma espécie de derivado do primeiro. Em ambos, Ferrante volta a temas que lhe são caros.
No caso de "A Filha Perdida", comparecem o desejo feminino de ter o trabalho reconhecido enquanto se batalha com a vida doméstica, a fé na literatura como caminho, a sensação de inépcia no exercício da maternidade.
Como em "Uma Noite na Praia", adicionam-se aí temores infantis, como o medo da perda, a codependência entre mãe e filha, que também surgiam em outras tramas.
Leda, a protagonista de "A Filha Perdida", é uma professora de literatura inglesa que, de férias na praia, encontra uma família napolitana que lhe traz à mente associações perturbadoras com sua própria biografia. A partir do encontro, rememora sua vida.
Com certa arrogância, começa a especular sobre a família, em especial sobre a jovem mãe, o que fará com que passe a refletir sobre a forma como cuidou de suas próprias filhas e de seu casamento, num momento em que ex-marido e prole vivem no Canadá e ela pode, enfim, se dedicar a si e a seu trabalho.
Quando a menina, Elena, se perde na praia, movida por empatia e desejo de se fazer notar, Leda procura e acha a criança, aproximando-se assim dos napolitanos.
Em outro traço recorrente, eis Ferrante brincando com a polissemia dos títulos, um pouco reforçada aqui pela tradução brasileira, que segue o título em inglês, mas não exatamente o italiano, no qual a filha era "obscura".
Achada a filha, perde-se sua boneca, e o romance envereda pelo aprofundamento dos aspectos psicológicos de Leda, que Ferrante domina de forma precisa, sem parecer esquemática em nenhum momento. É um breve e denso romance, entre os melhores da autora.
No livro infantil, a narrativa se desenrola do ponto de vista da boneca, esquecida pela dona, Mati, na praia. A angústia terrível do brinquedo é aumentada por personagens que são as forças da natureza –a Tempestade Noturna, a Onda, o Fogo.
Uma Noite Na Praia |
Elena Ferrante |
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As crianças podem ler, a autora os protegeu com o final é feliz. Os pais também, se quiserem conhecer um pouco mais a escritora e saber como maneja habilmente seus temas favoritos em diferentes registros.
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