Circuito Spcine leva 250 mil pessoas às salas de cinema em São Paulo
Arrastada pela neta de seis anos, "que está cobrando para ver esse filme desde sexta", a dona de casa Mary Correa, 73, era uma das 20 pessoas no foyer do CEU Butantã, zona oeste de São Paulo, à espera da exibição da animação "Pets: A Vida Secreta dos Bichos", no domingo (13).
O trailer de "Festa da Salsicha" não tinha chegado ao fim, porém, quando a luz no bairro acabou e mandou avó, avô e neta de volta para casa.
A sala de cinema, implantada no anfiteatro, é uma das 18 da capital paulista que integram o circuito da Spcine, mantido pela prefeitura em CEUs (Centros Educacionais Unificados) e centros culturais. Outras duas, na Cidade Tiradentes e no Ipiranga, devem ser inauguradas até o fim do ano. Todas têm sessões às quartas, quintas e domingos. Nos CEUs, elas são gratuitas.
Bruno Poletti/Folhapress | ||
Público assiste a sessão do Mix Brasil em sala do Circuito Spcine |
"Cinema de shopping está caríssimo", diz Mary, que mora no bairro do CEU Butantã, Jardim Esmeralda. O mais próximo dali, o Raposo Shopping, fica a 15 minutos a pé, do outro lado da rodovia. Lá, o ingresso vai de R$ 14 a R$ 30.
Estima-se que 250 mil pessoas já tenham passado por alguma dessas 18 salas desde março, quando o circuito foi inaugurado, segundo informa a própria Spcine. Nas 25 salas do Espaço Itaú na cidade, o público foi de cerca de 1,4 milhão de pessoas no período.
O número de público integra o balanço dos 22 meses de atuação da Spcine, que será divulgado nesta quarta (16), na Expocine, a feira do setor.
O plano inicial era que todos os ingressos no circuito fossem cobrados, como forma de sustentar as operações.
A ideia não vingou. "Defendemos muito esse modelo, mas ele se chocou com o dogma da gratuidade da educação nos CEUs", explica Alfredo Manevy, diretor-presidente da Spcine. A Secretaria de Educação acabou encampando os custos -cerca de R$ 5 milhões anuais-, que abarcam manutenção das salas, transporte do HD dos filmes e o aluguel desses títulos.
A ideia de não cobrar ingressos é criticada por Sérgio Sá Leitão, ex-presidente da RioFilme, empresa que fez da capital fluminense a cidade mais atrativa para o audiovisual e que inspirou a Spcine.
"A receita é o que assegura a continuidade do serviço", diz Sá Leitão. "O sistema não pode depender do Estado. Imagine como fica numa situação como a da crise do governo estadual do Rio".
Também foi necessário ajustar a meta de expansão. Em março de 2015, quando o circuito da Spcine foi anunciado, a prefeitura tinha planos de implantar 83 salas até o fim da gestão de Haddad.
"Aquilo era um estudo do potencial de aproveitamento", diz Manevy. Segundo ele, a vantagem do modelo foi a de não ter que construir salas, mas usar as existentes.
FUTURO INCERTO
A exibição é um dos braços da Spcine, empresa municipal criada em janeiro de 2015 que também atua na produção e na distribuição do audiovisual na cidade. À época de seu lançamento, com orçamento previsto de R$ 65 milhões, a Spcine contava com uma verba de R$ 25 milhões que viria do governo estadual, mas que nunca veio.
Segundo o atual secretário estadual de Cultura, José Eduardo Sadek, a burocracia e a crise econômica foram entraves que levaram ao recuo.
"É complicado tecnicamente: não há como o governo entrar numa empresa sem o aval da Assembleia", diz Sadek à Folha. "E hoje a queda da arrecadação é catastrófica. O nosso interesse é manter o que está funcionando."
Procurado, o prefeito eleito João Doria informou, via assessoria, que o futuro da Spcine ainda não foi discutido pelo grupo de transição.
Circuito Spcine Cadeia de salas de cinema mantidas pela Spcine |
Tamanho do circuito - 20 salas de cinema*
Público do circuito - Em milhares
345 obras tiveram filmagens autorizadas na cidade - De maio a outobro de 2016. Delas:
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
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