'Cidades devem superar modernismo e motorismo', diz urbanista Jan Gehl
Crítico contumaz da arquitetura modernista que se espalhou pelo mundo na segunda metade do século passado, o urbanista dinamarquês Jan Gehl, 80, afirma que esse estilo acabou criando cidades que privilegiaram as formas e não as pessoas.
Para ele, a verdadeira arquitetura deve ir além da escultura e levar em conta a escala humana e a interação com a vida. "As pessoas estão cansadas do modernismo e do motorismo", diz ele, referindo-se ao protagonismo que os carros ganharam no planejamento urbano.
Gehl se apresentou no ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento na noite de quarta (23) e ressaltou a importância de devolver as cidades aos seus habitantes e de buscar alternativas que as tornem mais saudáveis, habitáveis e amigáveis.
Na palestra, mediada pelo repórter especial da Folha Raul Juste Lores, o arquiteto mostrou que é possível conseguir mais espaço público para pedestres e ciclistas mesmo em grandes centros urbanos como Moscou, Nova York ou Sidney.
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O urbanista Jan Gehl, que falou em conferência do Fronteiras do Pensamento |
Seu livro "Cidades para Pessoas", lançado em 2010, já foi traduzido para 32 idiomas. De acordo com Gehl, isso é uma evidência do enorme interesse que existe atualmente em resgatar os aspectos humanos do urbanismo.
De acordo com ele, cidades como Brasília e Dubai foram feitas para serem belas quando vistas de cima, de dentro de um avião, mas deixam de lado aspectos fundamentais como proteção, conforto e lazer para quem vive diariamente em suas ruas.
Na cidade de São Paulo, Gehl já implementou mudanças nos largos de São Francisco e do Paissandu e tem ainda um projeto para o vale do Anhangabaú. Quando questionado sobre a promessa de campanha do prefeito eleito João Doria de aumentar a velocidade dos carros nas vias expressas, respondeu que considera muito populista um prefeito falar em tecnologias que estão ultrapassadas e lembrou que a cidade australiana de Melbourne enfrentou a mesma situação e o prefeito voltou atrás em três meses.
O urbanista afirmou que grandes mudanças dependem de líderes visionários que imaginem como as cidades devem estar em 20 anos. Citou Curitiba e Bogotá como exemplos e acrescentou que hoje os governantes não precisam mais de tanta coragem, basta seguir a corrente. Para ele, o império dos carros está ultrapassado e o futuro do urbanismo está em bons bairros e no transporte público.
Segundo Gehl, as pessoas desejam cada vez mais conviver umas com as outras: "O homem é a maior alegria do homem, como diz um provérbio."
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