CRÍTICA
Mambembe dá lugar a musical em novo longa dos Trapalhões
Tudo começa por uma ameaça: levar os Trapalhões, ou "Os Saltimbancos Trapalhões" para Hollywood. Certa mania de grandeza (ou complexo de inferioridade, tanto faz) expressa-se com frequência pela veneração a cidades ou instituições estrangeiras (hoje de em dia, de preferência dos EUA).
Felizmente essa ideia é logo arquivada: a visita ao Oscar limita-se a uma cena (boa, por sinal) em que Didi recebe a estatueta das mãos de Tom Hanks. Ao recebê-la, Didi comenta a semelhança do americano com o ator brasileiro Dan Stulbach. Como é Dan quem faz o papel de Tom, a piada vem a calhar e encerra uma sequência de abertura bem simpática.
O Oscar é apenas um sonho de Didi, varredor de um circo que está na pior. O que fazer para salvá-lo? Ele está para ser entregue a um político pouco escrupuloso. Estamos nisso quando volta ao circo a filha do dono (Letícia Colin), velha amiga de Didi, disposta a pôr em prática as ideias do faxineiro e fazer o circo reviver.
Ou seja, em vez de ir a Hollywood, Os Trapalhões (reduzidos hoje a Renato Aragão e Dedé Santana, ou seja, Didi e Dedé) reencontram "Os Saltimbancos", adaptação da peça musical feita em 1981 que teve mais de 5 milhões de espectadores e ganhou algum aplauso crítico (coisa rara para o grupo na época).
O reencontro supõe uma mudança. No momento da chamada retomada do cinema brasileiro, o conjunto parecia superado e "O Trapalhão e a Luz Azul" (1999) nem chegou a 800 mil espectadores.
Para eles, portanto, a retomada é agora, 18 anos depois.
Os Trapalhões continuam fiéis ao público infantil, mas muita coisa mudou. O mambembe praticamente some de cena: nada de leões ou acrobatas. A direção de J.B. Tanko, veterano artesão, era mais viva do que a do filme atual.
Em troca, a produção sofisticou-se enormemente. O musical ganhou espaço, e talvez seja ele a real força do filme.
O gênero ganhou força no teatro. Parece uma aposta sensata: é a certa opulência e desenvoltura da produção que o público atual do cinema de grande público está acostumado. Mas o setor musical perde muito da graça mambembe do original e a mise-en-scène ganha em rigidez, uma coisa um pouco pedante.
Para Didi e Dedé sobram agora os momentos mais estáticos: a idade pesa. Mas a agilidade verbal continua intacta e, não raro, é o que se impõe. Junto, claro, com a imagem de Renato Aragão. A idade o fez mais pesado, mas ao mesmo tempo mais conciso.
No geral, Os Trapalhões resistem à nova roupagem, sobretudo na medida em que não abrem mão de características essenciais (o tipo de humor, a primazia ao público infantil), ao mesmo tempo em que dividem o estrelato com os números musicais.
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