crítica
'Memórias' destaca subtexto da obra de Tennessee Williams
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Camila dos Anjos (à frente), Fernanda Viacava e Eucir de Souza em 'Memórias (Não) Inventadas' |
Numa das indicações a encenadores, Tennessee Williams observa a "atmosfera enfeitada do quarto". A peça curta "Lembranças de Bertha" (1941) baliza "Memórias (Não) Inventadas", espetáculo permeado de fragmentos de outros textos do americano.
A encenação é embicada num canto da sala, abraçada pela plateia disposta em "v". A prostituta decadente do título desvanece nesse beco. Faz duas semanas que está adoentada. Despreza a cafetina ávida por substituí-la. Ironiza pai e amante no plano da fantasia, homens que lhe anteciparam a condição de abandono. Alivia corpo e alma, dolorosos, na figura imaginária de uma boneca de biscuit.
Os diálogos de fundo realistas são contaminados pela dissociação entre ação e pensamento. Os atores distinguem exasperação de sutileza.
Fernanda Viacava nos estados alterados da protagonista, isentos de estereotipia. Camila dos Anjos na imitação gestual crível da boneca de carne e osso. E Eucir de Souza na inspirada gradação, por vezes num átimo, com que passei pelas figuras e máscaras da dona do bordel, do pai e do amante de Bertha.
Nessa realização de sua Cia. Triptal, projetada em 2004 a partir de obras de Eugene O'Neill, o diretor André Garolli destaca o subtexto, tributário do trabalho dos atores, e reverbera no espaço confinado a melancolia de um blues –plenamente captada na cenografia de Kleber Montanheiro.
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