Canção original: Duplamente no páreo, prêmio deve ir para 'La La Land'

GIULIANA VALLONE
EDITORA-ADJUNTA DE CULTURA

A premiação de melhor canção original no Oscar deste ano já sai ganhando em relação a 2016: não há, entre as concorrentes, composições para a trilha sonora de "007". Na edição passada, o britânico Sam Smith levou a estatueta por "Writing's On The Wall" (de "007 contra Spectre") –sem discutir os méritos do artista, a canção não merecia a honraria.

Em 2017, tem indicação para todos os gostos. Duas do filme-sensação do ano, "La La Land ", duas composições feitas para filmes de animação –também um clássico entre os vencedores da categoria– e uma balada melancólica para o triste documentário "Jim: The James Foley Story".

"City of Stars", de "La La Land - Cantando Estações"
A canção de Justin Hurwitz; Benj Pasek and Justin Paul (que concorrem duas vezes nesta categoria) aparece em alguns momentos do filme, mais notadamente em dois: com Ryan Gosling, mais melancólica, com um quê de Chet Baker; e cantada pelos protagonistas (Gosling e Emma Stone), fofinha. Funciona e deve ter sido muito assoviada por aí depois do lançamento do filme. Há que se dizer, sim, que os atores vão bem no gênero musical, mas não são exímios cantores. A canção levou o prêmio na mesma categoria no Globo de Ouro e é favorita a vencer no Oscar.

"Audition (The Fools Who Dream)", de "La La Land"
Justin Hurwitz; Benj Pasek e Justin Paul fazem uma ode aos sonhadores; no clima de escapismo que o filme propõe, a canção-tema de Mia (Emma Stone) pode ser a única coisa a se impor entre o Oscar e "City of Stars". Por serem ambas parte da trilha do filme favorito do ano, elas podem acabar dividindo os votos dos críticos, abrindo caminho para outra composição –neste caso, a de Lin-Manuel Miranda. Em ambos os casos, a melodia criada por Hurwitz agrada. Na interpretação, Emma Stone não desafina, mas o esforço para atingir os tons mais altos acaba tirando dela a capacidade de dar interpretação à voz.

Crédito: Divulgação Em cena de "Moana", a avó Tala e a menina Moana
Em cena de "Moana", a avó Tala e a menina Moana

"How Far I'll Go", de "Moana - Um Mar de Aventuras"
Lin-Manuel Miranda, 37, que virou hit depois de criar e estrelar o musical sensação "Hamilton" (visto pelo ex-presidente Barack Obama por três vezes), tem a chance de conseguir um supertrunfo: o Egot. Isso significa receber um Emmy, um Grammy, um Oscar e um Tony –coisa que só outros 12 outros artistas fizeram. Embora as chances sejam maiores para "La La Land", a canção "How Far I'll Go", interpretada no filme pela atriz Auli'i Cravalho, 16, e gravada, para a trilha sonora, pela cantora Alessia Cara, ainda pode levar. É a típica canção de animação hollywoodiana: dúvidas existenciais resolvidas por uma música animadinha e pegajosa.

Crédito: Divulgação/Divulgação Cena da animação "Trolls", da DreamWorks
Cena da animação "Trolls", da DreamWorks

"Can't Stop the Feeling",de "Trolls"

Está tudo lá, no manual da música pop: batida dançante, dueto de casal cool, imagens coloridas que contribuem para a atmosfera "pra cima". Não à toa, a composição de Justin Timberlake, Max Martin e Karl Johan Schuster ultrapassou as fronteiras do cinema e virou a segunda canção mais ouvida de 2016, segundo a "Billboard". No filme, é interpretada por Timberlake e pela atriz e cantora Anna Kendrick, uma dupla que, por si só, já atrairia atenção. Como "Happy", composta por Pharell Williams para "Meu Malvado Favorito 2" e concorrente na mesma categoria em 2014, "Can't Stop the Feeling" é hit certo. Mas, também a exemplo de sua antecessora, deve ficar só na indicação –"Happy" perdeu para a grudenta "Let it Go", trilha de "Frozen".

Crédito: Divulgação/Divulgação Cena do documentário da HBO "Jim: The James Foley Story"
Cena do documentário da HBO "Jim: The James Foley Story"

"The Empty Chair", de "Jim: The James Foley Story"

Se o ano fosse outro, essa balada triste composta no piano poderia ter mais chances. Com melodia de J. Ralph e letra do roqueiro britânico Sting, ela presta homenagem ao jornalista James Foley, morto pela facção Estado Islâmico em 2014. Tudo emociona aqui: um filme-documentário feito por um amigo de infância de Foley, os depoimentos de sua família, e, tanto quanto, a canção, que utiliza a metáfora da cadeira vazia na mesa do jantar. Não à toa, quando recebeu o convite de J. Ralph para escrever a letra, logo após assistir ao filme, Sting disse: "Não acho que possa [escrever]. É desolador demais". Dadas as poucas chances (ao menos nas bolsas de apostas), a indicação serve como um lembrete da existência do filme, que merece ser assistido.


Veja a lista das outras categorias comentadas por profissionais, críticos e colaboradores da Folha.

Melhor filme, por Inácio Araujo
Melhor diretor, por Sergio Alpendre
Melhor filme estrangeiro, por Cássio Starling Carlos
Melhor animação, por Sandro Macedo
Melhor documentário, por Aline Pellegrini
Melhor documentário de curta-metragem, por Lívia Sampaio
Melhor roteiro original, por Francesca Angiolillo
Melhor roteiro adaptado, por Francesca Angiolillo
Melhor ator, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz, por Teté Ribeiro
Melhor ator coadjuvante, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz coadjuvante, por Teté Ribeiro
Melhor fotografia, por Daigo Oliva
Melhor montagem, por Matheus Magenta
Melhor direção de arte, por Guilherme Genestreti
Melhor trilha sonora, por Alex Kidd
Melhor figurino, por Pedro Diniz
Melhor maquiagem e penteado, por Anna Virginia Balloussier

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