Grifes renovam sensualidade em Semana de Moda de Milão
Miguel Medina/AFP PHOTO | ||
Modelo Gigi Hadid desfila para Max Mara na Semana de Moda de Milão |
Quando se trata de costurar arquétipos de beleza e feminilidade, as grifes italianas costumam cortar decotes voluptuosos e encurtar em dois, três, ou quatro dedos as barras dos vestidos.
Nesta temporada de inverno 2018, porém, algumas das principais marcas da semana de moda milanesa seguiram caminho oposto.
O "glamour" da indumentária dos filmes noir dos anos 1940, época de sobreposições luxuosas, monocromatismo e roupas algo estruturadas permeou as coleções das grifes Max Mara e Fendi apresentadas na quinta-feira (23).
Na primeira, as peças apelaram pela volta às origens do luxo, quando a palavra significava apenas tecidos de alta qualidade e caimento preciso no corpo.
O estilista Ian Griffiths construiu um manifesto apoiado na limpeza das linhas do design escandinavo e toda a funcionalidade dessa escola.
Os looks misturaram a alfaiataria que era adorno dos filmes protagonizados pela atriz Ingrid Bergman (1915-1982) e a sensualidade curvilínea de outra sueca, a atriz Anita Ekberg (1931-2015), musa de Federico Fellini no clássico "A Doce Vida" (1960).
Casacos forrados com um mix de cashmere e pelo de carneiro foram sobrepostos a calças de alfaiataria cortadas em veludo e blusas transparentes, formando uma imagem sexy e clássica.
Na fórmula da Max Mara, o foco é a silhueta ampliada pela moldura das sobreposições, que em vez de esconder o corpo, sempre revelam contornos do corpo feminino.
A cartela enxuta, baseada em escalas de cinza, vermelho e camelo, aparece em diferentes tons da mesma cor.
Mesma lógica cromática da Fendi, outro epítome da moda italiana que eleva o conceito de elegância cinematográfica ao aplicar elementos da estética "boudoir" ao seu repertório de peles e couro.
A parceria entre o estilista Karl Lagerfeld e a empresária Silvia Fendi parece mais sólida do que nunca.
Enquanto ele traz o talento inigualável para misturar estética pop e luxo, ela evoca o legado aristocrático da marca essencialmente romana.
Mosaicos típicos da marchetaria vienense viraram base para casacos, sobrepostos a calças cortadas no meio das pernas, as chamadas "pantacourts", e saias em "A" na mesma proporção. Botas de cano alto tingidas com um tom de vermelho-sangue compuseram os conjuntos.
Ao toque fetichista da coleção foram adicionadas transparências.
No bloco final do desfile, modelos passeavam com vestidos lânguidos, ora com detalhes de flores bordadas à mão, ora com desenhos geométricos da marchetaria.
LISÉRGICO
Mas mesmo com a veia aristocrata e imponente de suas marcas, Milão parece ter como princípio dar vida nova à moda mundial, construindo um universo colorido e lisérgico, como propôs o estilista Massimo Giorgetti no desfile da Emilio Pucci.
Reconhecida pelas estampas circulares e pelo apreço ao jérsei colado ao corpo, a grife mostrou uma visão pessoal dos anos 1970, com direito a franjas, calças "flare" (abertas na barra) e looks que bebiam da estética do glam rock. Se fosse um filme, o desfile estaria mais para obra de Almodóvar do que Hitchcock.
Tons elétricos de verde, laranja, azul e rosa se misturavam em vestidos e casacos amplos, alguns colados a uma fina camada de plástico bordado com cristais. Uma viagem de ácido à italiana.
*
MILÃO - DIA 2
MAX MARA muito bom
FENDI ótimo
EMILIO PUCCI muito bom
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade