Crítica
Desequilíbrio de atuações prejudica 'Travessia'
Divulgação | ||
O ator Chico Diaz interpreta o viúvo Roberto em 'Travessia', do diretor baiano João Gabriel |
Com carreira bem-sucedida nos curtas e na publicidade, o diretor baiano João Gabriel chega ao longa-metragem com resultado irregular.
O trunfo do seu "Travessia" é o modo como olha para Salvador. Neste caso, fugir da visão que nos parece familiar não é pouca coisa.
Não há Pelourinho, Itapuã, Farol da Barra. Ora cinza, ora com luzes espocadas, a capital baiana se estende por vias expressas, viadutos e túneis. Essa fatia ostensivamente urbana resulta tão opressora quanto a de outras capitais, como São Paulo e Rio.
João Gabriel expõe camadas da metrópole ao afastar sua câmera do que a cidade tem de mais particular. Curiosamente, ao vê-la assim, quase comum, ele a expõe de um modo mais complexo.
Nesse sentido (e só nesse), "Travessia" se aproxima do ótimo "A Cidade Onde Envelheço" (2016), de Marília Rocha, que vê Belo Horizonte de um modo singular.
É nessa Salvador impessoal que se estabelece o drama de Roberto (Chico Diaz), cuja mulher morreu. Na ausência dela, acentua-se o descompasso entre Roberto e seu filho, Júlio (Caio Castro), traficante de drogas sintéticas.
De "Ladrões de Bicicleta" (1948) a "Procurando Nemo" (2003), a relação entre pai e filho é assunto fartamente explorado pelo cinema.
Na dificuldade de abordar o tema de modo original, o filme poderia, ao menos, montar um embate familiar capaz de prender o interesse do espectador. Não é o que ocorre.
No mais, há um desequilíbrio no duo central de atores.
Não deixa de ser louvável o desejo do diretor de tirar Caio Castro do conforto que as novelas proporcionam para jogá-lo no terreno, em geral, mais instável do cinema.
Mas falta a ele recursos dramáticos é especialmente prejudicial para um filme que depende demais das nuances de interpretação. Ao menos, há Chico Diaz, competente como de hábito.
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