Crítica
'Eu Te Levo' tropeça em representação do tédio e entedia
Marcelo Muller/Divulgacao | ||
Anderson Di Rizzi, protagonista de 'Eu te Levo', se veste de bombeiro, formação com a qual sonha |
Expressar o sentimento de paralisia, a dificuldade na hora de tomar uma decisão é a principal ambição e também a limitação de "Eu te Levo". O roteirista Marcelo Müller estreia na direção de longas com uma história sobre o impasse existencial de um jovem pouco antes de completar 30 anos.
A idade simboliza a entrada, cada vez mais adiada, na idade adulta, passagem na qual a dependência material e afetiva dos pais e a formação escolar são etapas cumpridas e encontrar emprego estável deveria completar o quadro.
O protagonista Rogério mora com a mãe, cuida da loja do pai, que morreu, e sonha em se transformar em bombeiro. Retratá-lo como alguém comum, semelhante a milhares, é uma das qualidades do filme, pois o cinema costuma ser confundido como um lugar exclusivo para personagens e histórias excepcionais.
Apesar de individualizar ao extremo o personagem, "Eu te Levo" não deixa de ser perpassado por questões sociais, pela desconexão entre o que se espera de cada um e o que se encontra no universo escolar e do trabalho, por exemplo.
Coerente com seu protagonista e sua situação apagados, Müller filma em preto e branco uma realidade feita de pouca variedade e estímulo.
A ambientação em Jundiaí, exemplo de cidade perto-longe da capital, demonstra a atenção do realizador aos significados e sua cautela para não chatear com didatismo.
Mas o filme tropeça numa dificuldade que já derrubou realizadores talentosos: como representar o tédio e, ao mesmo tempo, não entediar?
Seguimos Rogério em sua rotina, assistimos a seu estranhamento dos outros, vemos choques com modelos rígidos, em registro realista uniforme.
A interpretação nada óbvia de Anderson Di Rizzi, que compõe um personagem distante, quase frio em sua alienação, traduz sentimentos de forma muda e sem precisar recorrer demais à psicologia.
A câmera sempre muito junto do personagem demonstra a intenção de produzir uma identificação com ele.
Mas a ausência, talvez intencional, de empatia, de uma projeção emocional do espectador no drama sem sobressaltos produz um resultado correto, mas autoconsciente demais, sem desequilíbrios que ajudariam a dar ao filme a densidade que ele procura.
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