CRÍTICA
Tensão constante é marca do filme 'Apesar da Noite'
Divulgação | ||
Cena do filme 'Apesar da Noite' |
Desafiar o espectador é o maior interesse do diretor francês Philippe Grandrieux.
Parte desse desafio reside na capacidade que cada um tem de resistir ao incômodo formal que seus filmes suscitam no espectador.
Desde seu primeiro longa, "Sombra" (1998), com o qual procura entrar na mente de um assassino, seu cinema compreende uma série de procedimentos alinhados com a finalidade de tornar a vida do público bem menos confortável: câmera que treme incisivamente, imagens escuras, indefinição de personagens e situações, música enervante.
Durante algumas sessões de seu segundo longa, "La Vie Nouvelle" (2002), foi reportado que pessoas abandonavam as salas com tontura, enjoo no estômago (eventualmente vômitos) e até ataque epiléptico.
Não é à toa que a empresa produtora de seus filmes se chama Epileptic Films, e que em 2012 ele tenha realizado um documentário chamado "White Epilepsy". Grandrieux procura o limite do ser humano.
INCÔMODO DESLOCADO
"Apesar da Noite", seu filme mais recente, desloca o incômodo maior, que antes estava principalmente na forma cinematográfica, para a trama (que é, de certo modo, moldada pela forma).
Ou seja, adota uma direção mais contida (comparada a de seus longas anteriores) para salientar o peso do que está narrando.
Lenz (Kristian Marr) volta a Paris para encontrar Madeleine, que ele toma por seu grande amor.
No processo, envolve-se de maneira perigosa com o submundo do filme pornô do tipo "snuff" (no qual assassinatos e estupros acontecem realmente, e não apenas encenados para a câmera).
Desde o início, com homens e mulheres se reencontrando em meio a abraços, beijos e muitos sussurros, num espaço que mais parece um limbo, sabemos estar diante de uma obra alienígena dentro do cinema contemporâneo.
A partir de certo momento no filme (e esse momento chega depressa), a tensão, desnecessário dizer, é constante, e passamos a enfrentar um sério problema: uma infinidade de finais antecipados.
Quem não sabe que o filme tem mais de duas horas e meia, e talvez mesmo quem saiba, provavelmente vai sentir que a coisa não tem fim. Isso porque Grandrieux vai adiando as soluções como parte de sua estratégia desafiadora.
Só que nesse caso a estratégia fracassa. Apesar de um ou outro momento de força, a maior parte de suas imagens e todo o lenga-lenga sensacionalista provocam apenas o desejo de que o filme termine mais depressa.
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