CRÍTICA
Romance ofusca série da Globo e sensação de déjà-vu é inevitável
Globo/Divulgação | ||
Sophie Charlotte e Renato Góes em cena de 'Os Dias Eram Assim' |
Em 1992, a Globo produziu "Anos Rebeldes", uma minissérie ambientada nos anos de chumbo do regime militar (1964-1985). O impacto foi imenso: a memória da ditadura ainda estava fresca e, pela primeira vez, nossa teledramaturgia exibiu uma militante de esquerda sendo morta a tiros pelas forças de repressão.
De lá para cá, apenas a série "Queridos Amigos" (Globo, 2008) e a novela "Amor e Revolução" (SBT, 2011) tiveram como assunto esse período tão conturbado. Por isto, são inevitáveis as comparações entre "Os Dias Eram Assim" e suas antecessoras.
A "supersérie" —o novo nome que a Globo dá para suas novelas mais curtas— estreou nesta segunda (17) na faixa das 23 horas, e deve seguir no ar até setembro. O primeiro episódio foi extremamente didático, com imagens de arquivo e trilha sonora de época, como que para familiarizar o espectador com um passado remoto.
Também teve tudo o que se espera de uma trama que deslancha em 1970: a final da Copa do México, garotas de minissaia, atentado terrorista. Mas pareceu mais interessado no amor proibido entre Alice (Sophie Charlotte) e Renato (Renato Góes).
As próprias autoras Alessandra Poggi e Ângela Chaves —que fazem aqui sua estreia como titulares, depois de anos colaborando em outros programas— ressaltam que o romance é mais importante do que a política.
O resultado é que "Os Dias Eram Assim" começou de maneira tímida, com a conjuntura da década de 1970 servindo de mero pano de fundo para mais uma versão de "Romeu e Julieta".
Some-se a isto alguns atores repetindo tipos que já fizeram à exaustão —Antonio Calloni como o empresário inescrupuloso, Susana Vieira como a perua antipática— e a sensação de "déjà vu" é inevitável. E isto, mesmo com a relativa escassez de obras sobre a ditadura militar na nossa TV.
Nos próximos capítulos, parte da história se deslocará para o sul do Chile, onde o médico Renato será forçado a se exilar. Talvez os cenários deslumbrantes da ilha de Chiloé ajudem "Os Dias Eram Assim" a desenvolver personalidade própria.
Mas, por enquanto, parece grande o risco da Globo repetir o erro de "Nada Será Como Antes", minissérie exibida no final de 2016. Ali o objetivo era retratar os primórdios da televisão brasileira, mas este tema riquíssimo foi ofuscado pelo foco excessivo na vida amorosa dos protagonistas.
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