Bactérias inspiram mostra de brasileiro em Nova York
Jason Wyche/Divulgação | ||
Obra de Thiago Rocha Pitta na galeria Marianne Boesky, no bairro de Chelsea em Nova York |
Circulando pela galeria Marianne Boesky, no bairro de Chelsea, em Nova York, Thiago Rocha Pitta estava satisfeito com o resultado de sua segunda individual na cidade, que pode ser visitada até o final do mês.
"Acho que foi a melhor que já fiz", comentou enquanto caminhávamos pela espécie de ecossistema em que se transformou o espaço principal da mostra, com duas dezenas de afrescos e uma intrigante escultura ao centro.
Não por coincidência, o primeiro comentário na imprensa americana à exposição, intitulada "The First Green" (o primeiro verde), saiu na revista de ciência "Discover".
O grupo de trabalhos exposto mantém, de fato, uma sugestiva conexão com a história natural e a formação da vida no planeta.
Tudo começou em 2014, quando o artista voltou para casa, em São Paulo, após uma viagem à Noruega: "O jardinzinho estava morto, as plantas horríveis. Eu fiquei deprimido e comecei a cuidar delas. Ao mesmo tempo comecei a sentir vontade de trabalhar com verde, uma cor difícil, com a qual nunca tinha trabalhado antes", conta.
Naquele período, ele começava também a experimentar com afrescos, produzindo placas de cimento, com argamassa de gesso e areia, sobre as quais aplicava os pigmentos.
O primeiro verde tornou-se obsessão quando Thiago deparou-se em suas pesquisas com cianobactérias. Os microorganismos, verde-azulados, são a forma de vida mais antiga encontrada –há fósseis com datação de 3,7 bilhões de anos. Por meio da fotossíntese, cianobactérias foram responsáveis pelo longo processo de oxigenação do planeta.
O artista foi então visitar Hamellin Pool, no oeste australiano, onde esses organismos se acumulam, formando estruturas semelhantes a rochas –os estromatólitos. Eles estão lá, como há bilhões de anos, e foram registrados num vídeo, exibido na antessala da exposição.
As imagens foram feitas numa aurora, "um momento em que a luz e a escuridão ainda não se separaram", descreve.
Em plano fixo, projetado de modo invertido, misteriosas formações vão se tornando mais visíveis, numa cena que pode lembrar a alguém as rochas flutuantes e paisagens imaginárias de René Magritte.
Da aurora passa-se à luz, na sala dos afrescos e da escultura –uma colina de musgo úmido que se projeta de uma caverna de cimento. Uma trama de situações químicas, naturais e estéticas se instaura, tecendo metáforas que reverberam a fertilidade, as origens e as intrincadas conexões entre a vida e os processos ancestrais que lhe dão forma.
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