Principal álbum do rock, 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band' faz 50 anos

Crédito: Divulgação O quarteto de Liverpool em ensaio fotográfico para o encarte lendário disco 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
O quarteto em ensaio fotográfico para o encarte do disco 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band'

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

Nesta quinta (1º) é comemorado o Dia da Libertação do Rock. Há 50 anos, os Beatles lançavam "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", o disco mais importante do gênero em toda a sua história.

Concebido para ser escutado como uma obra única, da abertura com a canção-título ao encerramento com "A Day in the Life", o disco vale muito pela direção que apontou para outras bandas de rock, fossem consagradas ou iniciantes tocando em garagens. E "Sgt. Pepper's" apontou para todas as direções.

Antes desse que foi o oitavo álbum dos Beatles, o rock estava preso a acordes de guitarra e uma temática nas letras que não passava muito de "garoto encontra garota/ garoto perde garota/ garoto reconquista garota".

A coisa já estava em mutação. Bob Dylan deixava de ser folk para injetar letras quilométricas e intricadas no rock. Os Rolling Stones já tinham levantado uma bandeira de inconformismo com "Satisfaction". Os Beach Boys inovaram com "Pet Sounds". Os próprios Beatles vinham de dois discos impecáveis, "Rubber Soul" e "Revolver".

Mas o grande grito de liberdade veio quando os Beatles, após a decisão de não fazer mais shows, sentiram que o estúdio era o lugar para experimentar tudo que desse na telha. E o telhado do quarteto era muito fértil.

Sem a preocupação de escrever canções para serem reproduzidas no palco, o lema das gravações foi algo como "Por que não isso?". Em sessões que avançavam nas madrugadas, cada faixa foi recebendo novos penduricalhos, tecendo tramas complexas mesmo em músicas assobiáveis, que parecem mais simples do que realmente são.

PAUL, O PRODUTOR

O produtor George Martin, o "quinto Beatle", foi fundamental na formação do som da banda, guiando o talento bruto dos quatro desde as primeiras gravações.

Sua atuação em "Sgt. Pepper's" foi imensa, mas foi ali que Paul McCartney avançou bastante como produtor. Martin não acompanhava o ritmo dos músicos, indo para casa dormir enquanto eles, principalmente Paul, continuavam experimentando.

No caso de "Sgt. Pepper's", experimentar significa um abandono de qualquer convicção que o rock tivesse assimilado em seus 13 anos de vida, desde Bill Haley e Elvis.

O disco dos Beatles é uma salada pop, com rock, balada, vaudeville, batidas marciais, música clássica, som indiano. Tudo com uma liberdade um tanto jazzística e alcançada em evidentes estágios alterados da percepção.

É realmente impossível desassociar "Sgt. Pepper's" do consumo de drogas. O disco é uma espécie de antena do Verão do Amor, um fenômeno comportamental libertário de 1967, quando a força do movimento hippie se consolidou na defesa do pacifismo, do amor livre e das experiências químicas em busca de autoconhecimento.

"Sgt. Pepper's" foi lançado menos de dois meses após a grande passeata pela paz promovida em abril, nas ruas de Nova York, que muitos consideram o marco inicial do "Summer of Love".

A quantidade e a intensidade das referências às drogas embutidas em "Sgt. Pepper's" rendem discussões extensas. A canção que simboliza a questão é mesmo "Lucy in the Sky with Diamonds" e sua letra lisérgica, mas interpretações mais ou menos delirantes acham vestígios de substâncias alucinógenas em quase todas as faixas.

As atitudes seguintes dos Beatles só reforçaram sua relação com as drogas: George Harrison foi morar com hippies, eles fizeram a famosa viagem à Índia e, mais explícito impossível, Paul assumiu publicamente que usava LSD.

A ERA DOS LPS

A relevância musical de "Sgt. Pepper's" ofusca sua importância comercial. Ele simbolizou uma nova era da indústria fonográfica. O ano de 1967 foi o primeiro em que os álbuns deram mais dinheiro às gravadoras britânicas do que os singles.

Começou ali a supremacia do LP sobre o compacto que nortearia o mercado durante décadas. E "Sgt. Pepper's" foi o primeiro e único álbum dos Beatles que não teve música lançada em single.

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O "vale tudo" musical e temático proposto mudou a cara do rock. Se os Beatles falavam de céus de marmelada e velhinhos de 64 anos, por que não o Black Sabbath fazer letras sobre ocultismo ou Elton John criar uma versão rock de "O Mágico de Oz"?

"Sgt. Pepper's" é o pai do rock progressivo. A imersão de Paul na música de vaudeville do início do século 20 em "When I'm Sixty-Four" causou estranhamento, mas ajudou que o trio Emerson, Lake & Palmer tocasse depois peças eruditas russas do século 19 sem reclamações.

NOVAS EDIÇÕES

Discutida a importância de "Sgt. Pepper's", resta escutar essa obra-prima e entender por que o disco lidera 99,9% das listas de melhores álbuns da história.

Ainda não disponíveis no país, há edições comemorativas dos 50 anos em vários formatos. Em download, é possível comprar o álbum original remixado com 34 faixas inéditas (versões alternativas e remixes). Para compra física, há um CD com 31 músicas e um LP duplo com 26.

E, para quem pode gastar US$ 150 dólares (numa compra que pode chegar a R$ 700 com o câmbio e taxas de importação), o lance é o kit com vinil, CDs, Blu-ray com o documentário "The Making of Sgt. Pepper", de 1992, e um livro de 144 páginas que inclui textos de Paul McCartney.

Ouça o álbum 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band'

APIMENTADAS
Curiosidades sobre o disco que mudou a música

ANTES DA HORA
As gravações daquele que seria o oitavo disco dos Beatles começaram em 24 de novembro de 1966. O grupo registrou "Strawberry Fields Forever" e "Penny Lane". Pressionados pela gravadora, eles lançaram as duas num compacto. Depois essas canções ficaram de fora do álbum, o que não impediu que se tornassem dois dos maiores sucessos do grupo

NASCE UMA IDEIA
No final de 1966, voando do Quênia para Londres, Paul McCartney imaginou um disco que representasse um concerto de uma banda fictícia, a tal do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta. Na cabeça do músico, fingir ser outro grupo daria mais liberdade a experimentações no estúdio

PIRATARIA
"Sgt. Pepper's" foi o primeiro disco a "vazar" na indústria fonográfica. No dia 12 de maio de 1967, uma rádio londrina tocou uma cópia pirata do álbum

A CAPA FAMOSA
A foto dos Beatles cercados por imagens de personalidades foi a concepção gráfica de Peter Blake e Jann Haworth para uma ideia original de Paul. Ele fez vários esboços para o casal de artistas plásticos, mas neste ano ganhou notoriedade um desenho preliminar da capa feito por John Lennon, vendido por R$ 290 mil em um leilão

Crédito: Reprodução Esboço de capa feito por John Lennon, vendido por R$ 290 mil em um leilão
Esboço de capa feito por John Lennon, vendido por R$ 290 mil em um leilão

ÍDOLOS DOS ÍDOLOS
Paul pediu a cada Beatle que fizesse uma lista de seus grandes ídolos. Daí surgiram 70 nomes para compor a galeria de imagens na capa de "Sgt. Pepper's". Mas, atendendo a pressões, o grupo retirou três figuras da lista final: Jesus, Gandhi e Hitler

PARA OUVIR E LER
O álbum foi o primeiro da história a trazer todas as letras das músicas impressas no encarte

INGLATERRA & EUA
"Sgt. Pepper's", por conta da ideia de ser escutado de ponta a ponta, na ordem proposta das faixas, se tornou o primeiro álbum dos Beatles a ser lançado com exatamente as mesmas músicas dos dois lados do Atlântico. Até "Revolver" (1966), a discografia da banda sofria mudanças para o mercado americano

NÚMEROS, NÚMEROS
O álbum estreou no topo da parada britânica, permanecendo como número um por 22 semanas seguidas. O disco vendeu 250 mil cópias no Reino Unido na primeira semana. Até o final de 1967, chegou a 3 milhões. Hoje, são 33 milhões de exemplares em todo o mundo

EPÍLOGO CANINO
A faixa "A Day in the Life" tem sons de apito numa frequência audível apenas por cachorros

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