Grupo constrói peça com 'retalhos' do bairro onde mantém sua sede
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Sueli Andrade (esq.), Daniel Viana, Luiz André Cherubini, Sandra Vargaz, Liana Yuri e Maurício Santana |
O chão de terra e tijolos quebrados vem do conjunto de casinhas da esquina, demolido alguns meses atrás. As jarras, da última uma loja de cristais do bairro.
Para "Escombros", seu novo espetáculo, que estreia nesta sexta (11), o Grupo Sobrevento escavou histórias e objetos do entorno de sua sede, entre o Belenzinho e o Brás, na zona leste paulistana.
Durante o processo de pesquisa, que contou com a colaboração das companhias francesas Théâtre de Cuisine e Théatrenciel, o Sobrevento criou um "museu da vizinhança": chamou os moradores do bairro a levarem objetos com algum significado e contarem suas histórias.
"Escombros" parte da imagem de uma casa em ruínas para falar de memória e do desmoronamento de relações e afetos. Reflete principalmente o mundo hoje, um momento em que se questionam valores políticos e sociais.
"É a casa como a memória de um país", explica Sandra Vargas, que assina a dramaturgia e divide a direção com Luiz André Cherubini.
Mas foram os itens que "deflagraram" as cenas, criadas a partir de improvisos em torno dos objetos. Uma mesa ("o único móvel que nós tínhamos quando viemos morar aqui") serve de ponto de partida para falar do início e do término de um relacionamento. Um saco de pedras recorda o personagem dos locais onde as rochas foram colhidas.
Os atores também remetem aos destroços do título: têm os rostos cobertos de lama; os figurinos do estilista João Pimenta trazem um acabamento enrijecido, quase petrificado. Já a trilha sonora criada por Arrigo Barnabé transita pelo campo da memória e dialoga com composições de Geraldo Roca (1954-2015).
ESCALA
Em sua forma, "Escombros" difere-se das montagens anteriores do Sobrevento, companhia referência no teatro de objetos. Os itens em miniatura, que criavam imagens simbólicas dentro de peças como "São Manuel Bueno, Mártir" (2013) e "Só" (2015), não estão mais lá.
São objetos em tamanho real que agora ocupam o palco, mas o coletivo segue com a prática de colocá-los em evidência e usá-los como representações poéticas da cena.
"Nossa trajetória começou com uma forma muito estrita do teatro de objetos, e isso foi se abrindo", diz Cherubini.
O grupo, que neste ano celebra três décadas, também trabalha na catalogação de seu acervo, processo realizado por meio de edital do programa Rumos Itaú Cultural.
São fotografias de peças, figurinos e cenários, programas de espetáculos e registros de bastidores, que serão colocados no site da companhia (sobrevento.com.br ) e publicados em catálogo.
Os artistas ainda reúnem uma biblioteca com 300 livros sobre teatro de objetos e outros 800 volumes relacionados às artes cênicas. Entre as raridades, uma edição de "O Ator Vasques", de Procópio Ferreira", com dedicatória do autor a Viriato Correia.
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ESCOMBROS
QUANDO sex. a seg., às 20h; até 17/9
ONDE Espaço Sobrevento, r. Coronel Albino Bairão, 42, tel. (11) 3399-3589
QUANTO grátis; reservas pelo e-mail info@sobrevento.com.br
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
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