Mostra cria intenso diálogo formal entre Leonilson e outros artistas
Uma vontade minimalista atravessa a obra de Leonilson. Suas pinturas da década de 1980, quando despontou no cenário artístico, foram se tornando menores e menos coloridas até chegar a seus desenhos delicadíssimos, de poucos traços emoldurados por imensos espaços em branco.
Seus bordados, que chegaram a ter várias camadas e uma série de objetos costurados no tecido, seguiram a mesma linha da depuração, coincidindo com a descoberta da doença que tirou sua vida.
Numa mostra organizada por Ricardo Resende agora na galeria Marilia Razuk, um desses trabalhos -só um véu esticado sobre um chassi de madeira com duas letras negras bordadas num canto- está em diálogo com obras de outros artistas que investigam a solidão e o silêncio.
Divulgação | ||
Bordado sem título, realizado em 1992 por Leonilson, agora em mostra na galeria Marilia Razuk |
Nem todas as conversas ali, no entanto, têm a mesma intensidade. Os belíssimos quadros de seda desfiada de Marina Weffort, de fato, lembram a mudez radical das obras em que Leonilson tentou expurgar todo vestígio de cor, arquitetando um espaço estéril, mas a semelhança parece restrita à superfície da forma.
Hilal Sami Hilal, com cartografias etéreas traçadas sobre papel de algodão oxidado, sugerindo rotas entre planetas distantes e plantas arquitetônicas enferrujadas, talvez estejam mesmo mais próximas em conceito dos espaços errantes, fluidos que o artista âncora da mostra construiu em suas telas de escala elástica, onde homens são do tamanho de entroncamentos de rios.
Uma paisagem urbana de Maria Leontina, que reduz as cidades a densas formas geométricas lembra também a relação de Leonilson com as metrópoles que amava, de São Paulo a Los Angeles. É como se o casario chapado da modernista servisse de rota de fuga ou território de seus desencontros amorosos -a cidade ali vista como selva estoica, dura e indiferente.
Os silêncios também surgem ritmados, em sintonia com a sensação de impotência que atormentou Leonilson ao longo da vida, nas obras de papel recortado da colombiana Johanna Calle.
Suas composições poderiam ser textos ou partituras, mas no lugar de notas e letras há buracos na folha de papel, ausências que se querem cheias de significado, como frases soltas ditas em nome de amores impossíveis.
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