Como John Candy me ajudou na minha estreia como protagonista
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John Candy, Daphne Zuniga e Bill Pullman em cena de 'S.0.S. - Tem um Louco Solto no Espaço' |
Há 30 anos "S.O.S. - Tem um Louco Solto no Espaço", uma paródia de "Star Wars" dirigida por Mel Brooks, foi lançado pela MGM. Na época, as críticas não foram unânimes, mas com o tempo ele se tornou cult. E o aniversário me lembrou do golpe de sorte em "velocidade ridícula" que tive quando Mel me escalou como o desastrado Lone Starr, o Han Solo do filme.
Minha experiência em cinema era só a de um pequeno papel em um filme modesto. E lá estava eu, sob o comando de um diretor e roteirista lendário, e em companhia de atores cômicos talentosos e bem-sucedidos. O principal deles era John Candy, que por motivos que desconheço decidiu me ajudar.
Lone Starr é um sujeito durão, que vive solitário a não ser por seu amigo Barf. John fazia Barf, um "mog" (meio homem, meio cachorro), e uma de suas piadas frequentes era "sou meu melhor amigo".
A filmagem já durava algum tempo e eu estava meio perdido, vivia em pânico.
Um dia, na pausa para o almoço, Frankie, o motorista de John, surgiu ao meu lado. "Quer almoçar com John no trailer dele?" Olhei na direção em que ele estava apontando e vi John em sua roupa de Barf, mas sem a cabeça. Minha primeira inclinação foi recusar, mas de repente me ouvi responder: "Claro!".
Quando chegamos mais perto do trailer, ouvi John gritar: "Vem logo, Pullman, estou morrendo de vontade de tomar minha Pritikin Diet Soup". No trailer, ele colocou para requentar uma panela de canja rala e aguada, com alguns fios de macarrão. Eu estava sendo apresentado a um ritual que tinha infinitas variações. John encontrava maneiras novas de amaldiçoar a dieta a cada dia.
Em outro dia, um assistente de produção bateu à porta para dizer que a filmagem recomeçaria em cinco minutos. Enquanto John se preparava, Frankie apareceu com uma caixa com uma dúzia de donuts. John não perdeu tempo: apanhou um donut e empurrou a caixa em minha direção. "Você precisa de açúcar, Pullman. Estava bocejando". E assim nos tornamos participantes de uma conspiração.
Mas o momento que sempre me acompanha aconteceu durante uma crise que sofri no estúdio. Estávamos ensaiando uma entrada triunfal no Grande Salão de Yogurt. A cena era não só um ponto chave da história mas uma homenagem a Dorothy e sua trupe caminhando ao encontro do Mágico de Oz.
Na opinião de John, o diálogo dava todas as piadas a Barf, e ele sugeriu que eu dissesse uma das linhas. O set silenciou repentinamente.
Mel sempre foi um dos diretores mais generosos com quem trabalhei. Mas alguma coisa naquele momento o levou a usar seu sabre de luz metafórico. "Você acha que Pullman vai ser engraçado com esse diálogo? Pullman? Beleza, vamos tentar." Voltamos às marcas e refizemos toda a sequência. Depois do "corta" e de um breve silêncio, ouvimos Mel dizer: "Bem, melhor cortar esse diálogo. Vamos retomar".
Mais tarde, fiquei chateado por ter permitido que a incredulidade de Mel me causasse vergonha e frustração. Quando chegamos para uma nova tomada, acho que minha zanga era aparente.
Senti o braço de John no meu ombro: "Pullman, quer mais um donut? Melhor não ficar vermelho agora. E nem azul [triste] mais tarde". A risadinha e a piscada dele me acalmaram. Retomei o controle. No dia seguinte, Mel me recebeu no estúdio com um abraço.
Jamais esqueci a generosidade de John Candy. Ele me mostrou como liderar com gentileza, me deu uma força quando precisei.
Tradução de PAULO MIGLIACCI.
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