Peça usa linguagem do melodrama para debater o abuso de mulheres
Rafael Ianni/Divulgação | ||
As atrizes Ana Elisa Mattos (deitada) e Joyce Roma em frente à Oficina Cultural Oswald de Andrade |
Vocês que me Habitam", que estreou no início da semana na Oficina Cultural Oswald de Andrade, é um espetáculo feito em camadas.
São dois planos, o da história de uma menina que sofreu um estupro, e outro mais lírico, da relação das personagens com o tempo.
Em meio aos dois, estão ainda as camadas de identidade da protagonista —que tenta entender a si mesma e o abuso que sofreu e a relação da violência com uma sociedade de tradição patriarcal.
"Quantas pessoas são necessárias para que você seja você mesma? Quantas pessoas cabem dentro de você?", ela se questiona em cena.
A montagem surgiu de uma pesquisa das atrizes Ana Elisa Mattos e Joyce Roma e do dramaturgo Gustavo Colombini sobre o tempo. O texto depois ganhou colaboração da diretora Erica Montanheiro, que criou, com a história do abuso sexual, um fio condutor para a trama.
Em cena, as atrizes alternam as alusões temporais (o tempo que parou, que ficou suspenso) com a história de uma mulher (Mattos) que, após sofrer um estupro, engravida e procura auxílio médico para realizar um aborto, mas não encontra muito suporte no sistema de saúde.
A narrativa é costurada pelo melodrama, linguagem que Montanheiro pesquisa há mais de dez anos —ela a inaugurou no seu trabalho com o grupo Os Fofos Encenam e depois a aprofundou durante residência artística na França.
O resultado se dá principalmente na linguagem corporal das atrizes, com gestos exagerados, quase coreografados, para expressar as angústias e dores da personagem.
Durante o processo da peça, surgiram no texto "frases novas a cada dia", diz a diretora. Caso de "não tem constrangimento" —referência à decisão do juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto de libertar Diego Ferreira de Novais, que havia ejaculado em uma passageira de um ônibus.
A equipe do espetáculo também fará, em colaboração com a Secretaria Municipal de Políticas Para as Mulheres, apresentações vespertinas para cerca de 200 mulheres que sofreram algum tipo de abuso e são atendidas pelos centros de amparo à população feminina.
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VOCÊS QUE ME HABITAM
QUANDO seg., ter. e qua., às 20h; até 20/12
ONDE Oficina Cultural Oswald de Andrade, r. Três Rios, 363, tel. (11) 3221-4704
QUANTO grátis
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