Peça 'Preto' causa estranhamento em investigação sobre diferenças
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Os atores Felipe Soares e Cássia Damasceno em cena do espetáculo 'Preto' no Sesc Campo Limpo |
PRETO (muito bom)
DIREÇÃO Marcio Abreu
ELENCO Renata Sorrah, Grace Passô, Nadja Naira, Cássia Damasceno, Felipe Soares e Rodrigo Bolzan
QUANDO qui. a sáb., 20h, e dom. às 18h, até 17/12
ONDE Sesc Campo Limpo (r. Nossa Senhora do Bom Conselho, 120), tel. (11) 5510-2700
QUANTO de R$ 9 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
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A identidade, como ela é? Não havia uma resposta para tal pergunta em "PROJETO bRASIL", de 2015, quando a Cia Brasileira de Teatro se acercou daquilo que definiria nosso país.
"Preto" dá prosseguimento a essa pesquisa, investigando desta vez os indivíduos em um espetáculo que também explora diferentes linguagens.
A experimentação proposta pelo diretor de "Preto", Marcio Abreu, é o caminho para abordar a complexidade das questões e a multiplicidade de respostas. Entrevista, performance, palestra, dança, música etc. se combinam para iluminar a diferença entre as pessoas.
As cenas apontam várias direções e se reverberam, elaborando sentidos ao longo da peça. Uma entrevista típica do jornalismo de celebridades, por exemplo, ganha opacidade no rodízio dos seis atores nos papéis de entrevistado e entrevistador e na substituição de palavras nas mesmas respostas.
O estudo da identidade se apoia na relação entre imagem e corpo. As cenas são propostas poéticas e políticas, mas distantes do panfletário reiterado, compondo um caleidoscópio que pode ser sintetizado por dois momentos de grande força.
Começo pelo fim: o corpo negro da atriz Cássia Damasceno, cercado por microfones em todos os seus ângulos. Esse quadro é símbolo da possibilidade de ampliação e repercussão de seus próprios desejos e/ou da perscrutação de seu corpo como objeto de desejo?
O início da peça também trazia, pois, o corpo de outra mulher negra, o da atriz e coautora de "Preto", Grace Passô —mas, então, reforçando uma ausência.
Há na cenografia uma mesa (ostensivamente branca), um microfone e um copo d'água, cenário para sua palestra sobre a pretura ("Eu poderia falar sobre diversos assuntos, mas sempre me chamam para falar sobre esse [risos])", mas ela fala escondida, desincorporada, do canto do palco, para uma câmera; só se vê a imagem de seu rosto, imensa, projetada em uma tela.
A ambiguidade da presença se combina, na sequência, à dissociação entre corpo e voz, tema e recurso de um ótimo monólogo de Grace, "Vaga Carne" (2016).
Sua pesquisa se potencializa neste grupo, do qual ela é grande destaque também como atriz, ao lado de Renata Sorrah.
Ainda que menos impactante que "PROJETO bRASIL", "Preto" é surpreendente em sua capacidade de provocar estranhamentos, revelando a profundidade e poesia de questões —sociais e individuais, identitárias enfim— apenas à primeira vista tão trabalhadas.
A companhia de Curitiba propõe um diálogo fundado no desejo de entender: "Como é ser você?".
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