Como registro histórico, filme sobre dom Paulo é indispensável
Divulgação | ||
Cena do documentário 'Coragem! As Muitas Vidas do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns' |
CORAGEM! AS MUITAS VIDAS DO CARDEAL DOM PAULO EVARISTO ARNS (bom)
DIREÇÃO Ricardo Carvalho
PRODUÇÃO Brasil, 2017, livre
QUANDO estreia nesta quinta (14)
Veja salas e horários de exibição
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Em maio de 1971, o arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), foi recebido pelo general Emílio Garrastazu Médici.
O cardeal havia pedido uma audiência com Médici para reclamar das torturas aplicadas contra muitos dos opositores do regime militar. E foi o que dom Paulo fez. "Nós não vamos arredar um milímetro", respondeu o general ao pedido.
É o próprio líder católico quem conta esse episódio no documentário "Coragem! As Muitas Vidas do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns", que entra em cartaz um ano após a morte do arcebispo.
Dois anos depois desse encontro marcado pela tensão, Médici assinou decreto determinando o fechamento da rádio 9 de Julho, pertencente à Arquidiocese de São Paulo. A medida não foi capaz de intimidar dom Paulo. Pelo contrário, ele intensificou as críticas à brutalidade do regime.
Em 1975, em ato ecumênico na Catedral da Sé, o cardeal foi o primeiro a dizer publicamente que o jornalista Vladimir Herzog havia sido assassinado pelos militares, e não cometido suicídio por enforcamento, versão apresentada pelos agentes.
Aliás, as cenas da multidão dentro e fora da catedral estão entre as mais comoventes do documentário dirigido pelo jornalista Ricardo Carvalho, autor de dois livros sobre dom Paulo, entre eles a biografia "O Cardeal da Resistência".
Carvalho conheceu o arcebispo nos anos 70, quando era repórter da Folha e foi incumbido pelo jornal de acompanhar a arquidiocese.
Entre os entrevistados por Carvalho, o teólogo e escritor Leonardo Boff é quem dá os depoimentos mais precisos sobre dom Paulo. Nas palavras de Boff, o cardeal era "simultaneamente terno e vigoroso".
O Cardeal Da Resistência |
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A amigos e conhecidos, o arcebispo costumava recomendar "coragem", daí o nome do filme. Faltou ao diretor justamente destemor para escapar das convenções. Como obra de cinema, que requer alguma originalidade narrativa, o documentário decepciona.
No entanto, na condição de registro histórico a respeito de um grande brasileiro da segunda metade do século 20, o filme é indispensável. A defesa contundente da democracia e do diálogo, praticada por dom Paulo, faz muita falta ao Brasil dos dias de hoje.
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