Big band dá suingue vigoroso aos sons do 'bruxo' Hermeto Pascoal

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

NATUREZA UNIVERSAL (ótimo) * * * * *
ARTISTA Hermeto Pascoal & Big Band
LANÇAMENTO independente
QUANTO R$ 25 (CD)

"É um monte de jumento essa orquestra. Cada um é um jumentinho. Cada um no seu lugar, cada um com seu carinho." É assim, com o jeito muito peculiar de articular, que Hermeto Pascoal agradece aos 20 músicos de sua big band ao final da faixa "Jegue e Meu Jumento Mimoso".

A música fecha "Natureza Universal", primeiro disco do "bruxo" dedicado a uma big band. É um álbum para provar, pela enésima vez na vida desse alagoano de 81 anos, que música instrumental não é sinônimo de som difícil.

Mesmo com construções sofisticadas, com várias trocas de fraseados dos metais a cada minuto de execução, a música de Hermeto e sua tropa segue fluida, divertida.

O projeto, idealizado pelo pianista Tiago Gomes, ganhou forma com o apoio do edital da Natura Musical. Assim, Hermeto fechou 2017 com dois discos gravados no mesmo ano, algo incomum.

Lançou "No Mundo dos Sons" com sua banda, na qual figura há 20 anos o pianista André Marques. Ele é o regente da big band montada para o outro álbum.

Tiago Gomes (piano), Fábio Leal (guitarra), Fábio Gouveia (baixo), Cleber Almeida (bateria) e Fábio Pascoal (percussão), filho de Hermeto, formam a banda que se uniu a três quintetos de metais, divididos em trompetistas, saxofonistas e trombonistas, numa dedicada família musical.

É difícil destacar performances individuais. Hermeto resolveu dar o maior espaço possível a cada músico em um disco vigoroso, feito para empolgar a plateia nos shows.

A música "Viva o Gil Evans" talvez tenha uma das propostas mais claras, em sua alternância de camadas de grupos de metais. Mesmo de forma intuitiva, o desejo de Hermeto de fazer algo que remetesse ao pianista canadense Gil Evans (1912-1988) criou a faixa mais palatável do álbum.

Quem procurar chorinho ou alguma sonoridade árabe em "Choro Árabe" só vai encontrar Hermeto em momento muito inspirado, cheio de suingue e com um sotaque brasileiro inconfundível.

"Brasil Universo", a faixa mais longa entre as 11 do álbum, aproveita seus mais de nove minutos para condensar ali uma espécie de suíte. São várias entradas e viradas rítmicas tortuosas e ao mesmo tempo atraentes.

Com início tímido, intimista, "Menina Ilza" tem um desenrolar jazzístico encantador. Termina encorpada, com um coro de vozes e aplausos. Já "De Cuba Lanchando" é um cruzamento de frases aceleradas dos metais, num resultado meio brincalhão.

"Apresentação" utiliza vocais como percussão e um encadeamento dos metais, como um trem acelerando.

"O Som do Sol" é a música mais big band de todas, na pegada habitual desses grupos. Raro momento tradicional em disco de surpresas.

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