Documentário apresenta David Bowie como gênio inabalável

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Crédito: Divulgação Cena do documentário 'David Bowie - The Last Five Years
Cena do documentário 'David Bowie: The Last Five Years'

SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK

DAVID BOWIE: THE LAST FIVE YEARS (bom) * * *
Documentário
QUANDO quarta-feira (10), às 21h30, no canal Bis

Nos últimos anos de sua vida, David Bowie revisitou a exuberância de sua juventude, como se tentasse fechar um círculo em que as glórias de um passado de invenções e reinvenções musicais e estéticas serviriam de alicerces de uma despedida calculada.

"Blackstar", seu último álbum, chegou às lojas dois dias antes de sua morte, há exatos dois anos. Foi o suspiro derradeiro –todo construído em segredo– de um dos maiores artistas do século 20.

Um documentário que acaba de estrear na HBO americana e que chega nesta quarta ao Brasil revela os bastidores da criação de seu disco final, do musical "Lazarus", encenado na Broadway, e de seu penúltimo álbum, "The Next Day", gravado no início de uma década passada em reclusão.

Bowie, dizem os músicos de sua banda no filme, nunca pareceu tão jovem quanto no dia em que sofreu um ataque cardíaco em pleno palco num show em Berlim. Ele terminou aquela apresentação, sua última ao vivo, e foi levado direto dali para o hospital.

Esse episódio em 2004, que abortou sua mais longa turnê, foi o estopim de um surto criativo. Bowie voltou depois para Nova York, onde vivia, e passou anos pensando num adeus à vida de estrela do rock que parece ter amado tanto quanto desdenhado.

"David Bowie: The Last Five Years", o filme, vai muito além de seus últimos cinco anos. É uma crônica das obsessões estéticas do músico, desde seus primórdios, na "swinging London", até o auge de sua fama avassaladora, "aquele lugar onde as coisas são ocas", nas palavras dele.

Francis Whately, o diretor, disseca com olhar clínico cada passo de Bowie e se esforça para destrinchar as influências por trás de cada letra e cada decisão visual, mas também se deixa seduzir pelo magnetismo do retratado.

Os closes insistentes nos olhos de cores destoantes de Bowie são um único –e talvez incontornável– aceno à hagiografia num filme que não disfarça a visão de Bowie como pavão misterioso e frágil que arquitetou três de suas obras mais fortes enquanto lutava contra o câncer que acabaria tirando a sua vida.

Bowie é visto como um gênio inabalável, orquestrando faixa por faixa de seus últimos trabalhos como resgates precisos dos personagens que marcaram toda a sua obra –Lazarus, no caso, é o mesmo Thomas Newton de "O Homem que Caiu na Terra", filme estrelado pelo músico em 1976 que explicita a sua sensação de não pertencimento.

Sua experimentação em faixas como "Sue (Or In a Season of Crime)" e "Lazarus", do disco "Blackstar", retomam as inovações de "Sound and Vision" e as performances ultrateatrais de "Diamond Dogs", dos anos 1970.

Mesmo sendo um tanto convencional no formato, o documentário acaba desmistificando o camaleão. É um exame preciso e delicado dos motivos que levaram Bowie a se esconder do mundo para mostrar depois as suas tais "cicatrizes que não podem ser vistas". No fundo, é uma ode ao astro que fez de sua morte um espetáculo cintilante.

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