Descrição de chapéu RFI

Feministas chamam Deneuve e intelectuais de 'aliadas dos porcos'

Crédito: LOIC VENANCE/AFP (FILES) - A file picture taken on May 21, 2014 at the 67th edition of the Cannes Film Festival in Cannes shows French actress Catherine Deneuve posing during a photocall. Deneuve, who plays in the movie "La Tête haute" ("Heads Up") which opens the 68th edition of the Cannes Film Festival on May 13, told in an AFP interview on May 10, 2015 that she "hates the selfie pictures" and that with the numeric technology "there are no stars anymore in France". AFP PHOTO / LOIC VENANCE ORG XMIT: CAN5882

ADRIANA MOYSÉS
DA RFI

A feminista Caroline de Haas e outras 30 militantes francesas reagiram nesta quarta-feira (10) ao artigo de opinião publicado ontem no jornal "Le Monde" que defendeu a "liberdade" dos homens de "importunar" as mulheres e apontou "uma onda purificatória" após o escândalo do produtor de cinema americano Harvey Weinstein.

Em outro texto, intitulado "Os porcos e seus aliados têm razão de ficar preocupados", as feministas condenam o manifesto contracorrente, dizendo que ele tenta abafar um debate durante muito tempo oprimido pela sociedade. "Somos vítimas de violências, não temos vergonha e estamos determinadas a acabar com as violências sexistas e sexuais", escrevem.

Acusando as cem signatárias do campo opositor, entre elas a atriz Catherine Deneuve e a crítica de arte Catherine Millet (autora do livro "O Outro Lado de Catherine M.") de terem se aliado aos "porcos" em alusão ao movimento #MeToo (eu também, em português) e #BalanceTonPorc (denuncie seu porco, em tradução) surgidos após as denúncias contra Weinstein.

Caroline de Haas afirma que as mulheres que consideraram a onda de denúncias uma questão de "puritanismo" são "em sua maioria reincidentes na defesa de pedófilos e na apologia do estupro".

Em março passado, Deneuve, 74, gerou polêmica ao defender na televisão o cineasta Roman Polanski, acusado de estupro de menor há mais de 40 anos nos Estados Unidos.

No texto publicado no Le Monde, as atrizes, escritoras, pesquisadoras e jornalistas dizem que "o estupro é um crime". Porém, consideram que "paquerar de forma insistente ou desajeitada não é um delito, assim como o galanteio não é uma agressão machista".

Redigiram o artigo Sarah Chiche (escritora e psicanalista), Catherine Millet (crítica de arte e escritora), Catherine Robbe-Grillet (atriz e escritora), Peggy Sastre (autora, jornalista, tradutora) e Abnousse Shalmani (escritora e jornalista). Deneuve e dezenas de outras mulheres endossaram as colocações.

"NÃO NOS RECONHECEMOS NESTE FEMINISMO"

Há homens que foram "sancionados no exercício de sua profissão, obrigados a se demitir, quando seu único erro foi ter tocado um joelho, tentado ganhar um beijo, falado coisas 'íntimas' durante um jantar profissional, ou ter enviado mensagens de conotação sexual a uma mulher que não sentia uma atração recíproca", asseguram as mulheres que assinam o artigo do Le Monde.

"Enquanto mulheres, não nos reconhecemos neste feminismo", diz o coletivo, acrescentando que defende "uma liberdade de importunar, indispensável à liberdade sexual".

GOVERNO REAGE

O manifesto polêmico também gerou reações no governo. A secretária de Estado para a Igualdade de Mulheres e Homens, Marlène Schiappa, disse pelo Twitter desconhecer homens que tenham sido denunciados por terem colocado a mão num joelho feminino, como minimizou o artigo "tolerante" com os avanços masculinos.

Em outro tuíte, a ex-ministra francesa dos Direitos das Mulheres Laurence Rossignol lamentou "esta estranha angústia de deixar de existir sem o olhar e o desejo dos homens, que leva mulheres inteligentes a escrever enormes estupidezes".

"INSULTO ÀS FEMINISTAS"

Este é "um artigo para defender o direito de agredir sexualmente as mulheres e para insultar as feministas", dispara Caroline de Hass. "Toda vez que os direitos das mulheres evoluem, que consciências são despertadas, as resistências aparecem", constata a militante.

Ela lembra que diariamente dezenas de mulheres são vítimas de assédio sexual e estupro na França.

Comentando ponto a ponto os argumentos do manifesto apoiado por Deneuve, as feministas consideram que a argumentação "mistura deliberadamente uma relação de sedução, baseada no respeito e no prazer, com uma violência".

ASSÉDIO SEXUAL

Confira a seguir um resumo sobre os principais casos de assédio sexual e estupro em Hollywood reportados recentemente.

Harvey Weinstein
No caso que foi o estopim para a avalanche de acusações em Hollywood, o outrora poderoso produtor de 65 é acusado de ter assediado e estuprado mulheres ao longo de três décadas. Entre as vítimas estão Angelina Jolie, Ashley Judd e Gwyneth Paltrow. Bob Weinstein, irmão de Harvey, também foi acusado de assédio. Mais recentemente, Salma Hayek também escreveu ao "New York Times" sobre o abuso cometido pelo produtor, dizendo que ele "também foi meu monstro".

Kevin Spacey
O ator de 58 anos foi acusado pelo colega Anthony Rapp de o ter assediado fisicamente quando a vítima tinha 14 anos. O ator mexicano Roberto Cavazos fez acusações semelhantes. Após as acusações, a Netflix suspendeu a última temporada da série "House of Cards" e afastou o ator do programa, além de cancelar o lançamento do filme "Gore", protagonizado por Spacey.

Louis C.K.
O comediante e diretor de 50 anos confirmou as acusações de assédio sexual feitas contra ele por cinco mulheres, publicadas em reportagem do "New York Times". Em dois relatos, o comediante se masturbou em frente a atrizes sem o consentimento delas. Após as denúncias, a estreia do filme "I Love You, Daddy", de Louis C.K., foi cancelada. A Netflix também cancelou a produção de um especial com o comediante.

James Toback
Segundo o "Los Angeles Times", mais de 30 mulheres denunciaram o diretor e roteirista de 72 anos de cometer assédio sexual. Autor da reportagem, Glenn Whipp disse ter sido contatado por 193 mulheres com acusações semelhantes contra Toback, autor do roteiro de filmes como "Bugsy" e "O Apostador".

Roman Polanski
Além de ter estuprado uma garota de 13 anos em 1977, o cineasta franco-polonês de 84 anos também é alvo de, pelo menos, outras quatro acusações contra mulheres menores de idade, entre elas a atriz Charlotte Lewis. Em Paris, uma retrospectiva de sua obra foi alvo de críticas por um grupo feminista.

Dustin Hoffman
O ator que tem hoje 80 anos foi acusado de ter assediado sexualmente a escritora Anna Graham Hunter, então com 17 anos, no set do telefilme "A Morte de um Caixeiro-Viajante", em 1985. Reportagem mais recente da "Variety" aponta outras três mulheres acusando o ator.

Brett Ratner
A atriz Natasha Henstridge diz ter sido forçada a fazer sexo oral no diretor de "A Hora do Rush" e "X-Men: O Confronto Final" nos anos 1990. Além dela, outras atrizes e modelos, como Olivia Munn e Jaime Ray Newman, também relatam casos semelhantes envolvendo ele. Rattner, 48, nega as acusações.

Ed Westwick
O ator conhecido por "Gossip Girl" foi acusado de estupro por Kristina Cohen e Aurélie Wynn. Ele nega. A polícia de Los Angeles abriu investigação sobre o primeiro caso. Com isso, a BBC suspendeu a exibição "Ordeal by Innocence". As gravações já iniciadas da segunda temporada de "White Gold", da Netflix, também foram suspensas.

John Lasseter
O diretor da Pixar e dos filmes "Toy Story" e "Vida de Inseto" decidiu tirar licença de seis meses após admitir erros ligados a condutas de assédio sexual. Colaboradoras reclamaram de um excesso "invasivo" de abraços e outras situações desconfortáveis.

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