MARIA LUÍSA BARSANELLI
DE SÃO PAULO

Na busca pelo imaginário da cultura do pai indiano, o americano Rajiv Joseph, 43, se deparou com um detalhe de um mito grandioso.

Foi das lendas por trás da construção do Taj Mahal, no século 17, que o dramaturgo, finalista do Pulitzer por "Bengal Tiger at the Baghdad Zoo" (tigre-de-bengala do zoológico de Bagdá), tirou a trama de "Os Guardas do Taj". De 2015, a peça ganha montagem brasileira que estreia neste sábado (13), em São Paulo.

De uma história épica, com diversos personagens, ele acabou se fixando em dois: os guardas do monumento, inicialmente periféricos, tornaram-se protagonistas.

É como se escrevesse um "Hamlet" e decidisse por ficar apenas com Rosencrantz e Guildenstern (dupla de cortesãos da tragédia shakespeariana), disse certa vez Joseph.

"Ele achou esse ponto, desses personagens pequenos, em meio a uma coisa grandiosa, com os quais nos identificamos", afirma Rafael Primot, que idealizou a montagem e assina a direção ao lado de João Fonseca.

Apesar da inspiração histórica, Joseph não faz um retrato de época. Coloca nos diálogos uma fala contemporânea, e as referências indianas servem apenas de pano de fundo.

O próprio Taj Mahal, para o qual os guardas são proibidos de olhar, não aparece em cena. O público vê, assim como os oficiais, um muro que se move sobre o palco criando outras formas cênicas.

CONTRADIÇÕES

Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi vivem os guardas Humayun e Babur, amigos de longa data que se veem trabalhando juntos em frente ao monumento em construção.

O primeiro, de família de oficiais, é de extrema obediência. O segundo, meio fanfarrão, questiona o sistema e as ordens que recebem. De um início cômico, o espetáculo ganha ares de drama e se aproxima do absurdo.

"Ele conta a história dessa amizade e de como ela é abalada pelas contradições dos dois", diz Primot. "E como toda a escolha tem sua consequência", segue Gianecchini.

Rajiv se baseia na lenda de que o xá Jahan teria ficado enciumado da beleza do Taj Mahal, suntuoso mausoléu feito em memória a sua mulher. Para que não se pudesse criar outra coisa tão formosa, teria mandado cortar as mãos dos cerca de 20 mil homens que trabalharam na construção.

São Humayun e Babur os encarregados da ingrata tarefa. Já exaustos e cobertos do sangue alheio, começam a se indagar se não teriam, eles próprios, matado a beleza, uma vez que impossibilitaram os artesãos do Taj Mahal de criarem novamente.

"Acho que é isso que a gente vê hoje. Que mundo é esse em que uma exposição de museu pode ser perigosa?", diz Fonseca, em referência às polêmicas recentes de mostras como a "Queermuseu".

LÁ E CÁ

"Os Guardas do Taj" fez um caminho incomum. Antes de estrear em São Paulo, teve uma pequena temporada por quatro cidades portuguesas, no fim do ano passado.

A montagem (autorizada a captar R$ 1,46 milhão via Lei Rouanet) faria inicialmente sua estreia no Brasil, mas a produtora brasileira Morente Forte buscou uma parceria com a lusitana Plano 6.

A versão que se vê no teatro paulistano é a mesma, com pequenas mudanças no cenário, que foi reconstruído aqui.

OS GUARDAS DO TAJ
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., 18h; até 25/3
ONDE Teatro Raul Cortez, r. Dr. Plínio Barreto 28, tel. (11) 3254-1631
QUANTO R$ 60 a R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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