OS GUARDAS DO TAJ (bom) * * *
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., 18h; até 25/3
ONDE Teatro Raul Cortez, r. Dr. Plínio Barreto 28, tel. (11) 3254-1631
QUANTO R$ 60 a R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
O conflito entre lei e moral é o tema de "Os Guardas do Taj", do americano de ascendência indiana Rajiv Joseph.
Grosso modo, pode-se dizer que se trata do embate entre as regras de conduta e as balizas que guiam cada homem em suas decisões. A aridez da abstração, no entanto, passa longe da peça dirigida por Rafael Primot e João Fonseca, que concretiza com humor e drama os dilemas dos personagens.
Humayun e Babur são dois grandes amigos –chamam-se de "bhan", irmão– que servem juntos, como guardas reais, nas madrugadas de Agra, cidade que abriga a construção do Taj Mahal no século 17. Sua tarefa é proteger os muros que ocultam o futuro monumento, para o qual estão proibidos de olhar.
Essa situação inicial se complica a partir dos questionamentos de Babur, interpretado por Ricardo Tozzi. O jovem, extremamente sonhador e pouco disciplinado, põe-se a imaginar como seria o monumento, a coisa mais bela que existirá no mundo.
Apesar da obediência cega, Humayun (Reynaldo Gianecchini) acaba tentado pelas divagações do amigo. Por que não podem conversar? Por que não podem espiar o templo? O imperador se pensa acima de Deus? As perguntas de Babur põem em marcha o drama.
As personalidades dos dois são a princípio bem definidas e antagônicas: rígido, um explica cada lei, em falas funcionais; o outro, ganhando a simpatia do público em volteios e rebolados em torno da regra, questiona o pai, o imperador, Deus –todos, a lei.
O tom é por vezes infantil, como se brigassem dois irmãos, ambos submetidos a algo superior. As complicações em que eles se veem enredados, porém, nada têm de pueris, e os personagens ganham complexidade.
O texto imprime tais nuances melhor que a atuação, que é correta. As caracterizações e os elementos de cena ajudam os atores, dando alguma concretude a uma peça que se sustenta no diálogo. Também há torso nu em cena, caso alguém esteja se perguntando, dado o elenco de galãs.
Em meio à figuração de cada elemento do texto –até as mãos decepadas pelos guardas, cerne do conflito, estão em cena–, é bastante acertada a escolha de não mostrar no cenário o Taj Mahal.
A grandiosidade do templo se faz ver pela expectativa dos guardas e por suas descrições, dando espaço para o espectador criar as minúcias de uma construção cuja fachada está bem fixada no imaginário.
Tal opção poderia ter sido estendida ao que pretende ser o auge da peça, quando, em um delírio, os amigos vivenciam uma situação de grande beleza, que poderia concorrer com a do monumento.
A montagem opta pela figuração, acrescentando até efeitos de cheiro ao momento, o que resulta um pouco kitsch e desbota o tom mágico que permeia as descrições e invenções de Babur e Humayun.
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