ISABELLA MENON
DE SÃO PAULO

Ao longo de quatro décadas, Chichico Alkmim (1886-1978) fotografou.

Integrante de uma geração de retratistas, ele transmitia sua linguagem com "olhar de pintor", em imagens que se assemelham a "pinturas renascentistas".

Assim Eucanaã Ferraz, curador de mostra com cerca de 300 imagens que chega a São Paulo após passagem pela sede carioca do IMS, define o trabalho do fotógrafo.

A mostra começa com retratos que remetem ao ateliê de Chichico e segue com fotografias de Diamantina, em que estão representados o comércio, a indústria, o garimpo e as festas populares.

Alkmim se instalou na cidade mineira em 1912, depois de viajar pela região vendendo joias com seu pai.

Nos retratos apresentados no início da exposição, é notável a preocupação dos fotografados em aparecerem bem vestidos independentemente da classe social.

O fundo das imagens mostra paisagens pintadas como cenários. "Era a sua tentativa de montar um estúdio", explica Ferraz.

Em seguida, a mostra segue fotos ao aberto. Mesmo fora do estúdio, Alkmim não perde sua marca registrada; fotos posadas contra algum cenário ou pano de fundo são quase sempre a regra.

Em algumas fotografias, nota-se a presença de flores nos trajes das pessoas fotografadas. "É uma vontade de compor algo anticonvencional", diz o curador.

Outra característica é a constante presença de crianças nos cliques do fotógrafos. Algumas mostram contrastes sociais do período.

Em uma época que o uso sapato denotava distinção de classe, o elemento do vestuário deixa perceber que Alkmim contemplava desde as classes mais abastadas aos mais pobres em seus retratos.

"Nem todas as crianças usavam sapato e as que usavam as vezes usavam em só um pé para não gastar", explica o curador.

De acordo com Ferraz, estudos mostram que Alkmim não cobrava de algumas pessoas e as fotografava em troca de um pedaço de rapadura ou de uma galinha.

"Era uma coisa completamente doméstica", diz Ferraz. "Ao mesmo tempo, ele foi se tornando um exímio artista da luz, das texturas, da composição que era uma coisa indisponível da época".

Em um espaço anexo ao corpo da exposição, em uma pequena sala, são expostos materiais que o fotógrafo utilizava na época, como negativos de vidro e imagens impressas pelo artista.

A mostra contém também uma máquina fotográfica que se assemelha à que Alkmim utilizava na época; ao seu lado, há uma explicação sobre o funcionamento do equipamento.

ANJINHOS

Nas fotos que contemplam as festas populares, ele também retratava os "anjinhos", como eram chamadas as crianças que morriam.

"Ele foi um dos últimos a fotografar essas cerimônias", nas quais as crianças eram vestidas de anjos. "São fotos impactantes", define Ferraz sobre a série que mostra pais velando os filhos assim representados.

"Acreditava-se na pureza de quem teve a chance de morrer criança e, portanto, ser um anjo. Sendo um anjo, a crença era que a criança poderia interceder em favor dos seus familiares."

CHICHICO ALKMIM, FOTÓGRAFO
QUANDO até 15/4; ter. e qua. a dom. das 10h às 20h e qui. das 10h às 22h
ONDE Instituto Moreira Salles, av. Paulista, 2.424
QUANTO entrada gratuita

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