Morre Hugh Masekela, lenda do jazz e militante antiapartheid, aos 78 anos

DA AFP

O lendário trompetista e cantor sul-africano Hugh Masekela, personalidade do jazz e da luta contra o apartheid, morreu nesta terça-feira (23) aos 78 anos.

"Depois de uma longa e corajosa batalha contra o câncer de próstata, ele morreu pacificamente em Joanesburgo, cercado por seus entes queridos", anunciou a família.

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, elogiou-o como "um artista de jazz, um trompetista lendário, um defensor da cultura e um veterano da luta de libertação" contra o apartheid.

"Manteve viva a chama da liberdade lutando, através da música, contra o apartheid", estimou Zuma. "É uma perda incalculável para o mundo da música e para todo o país".

Crédito: Daniel Marenco - 24.nov.2012/Folhapress Hugh Masekela no festival Back2Black, na Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro, em 2012
Hugh Masekela no festival Back2Black, na Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro, em 2012

Hugh Masekela fugiu do regime do apartheid na década de 1960 e não retornou ao país até a libertação, em 1990, de Nelson Mandela, ícone da luta contra o racismo.

Entre suas principais composições, destacam-se "Bring Him Back Home", em que pede a libertação de Mandela, futuro Nobel da Paz, e "Grazing in the Grass", um tema instrumental.

Quando adolescente, um padre envolvido na luta contra o apartheid, Trevor Huddlestone, o presenteou com seu primeiro trompete.

Foi criado por sua avó na pequena cidade de Witbank, região norte da África do Sul.

EXCESSOS

Masekela cresceu no período mais sombrio do regime com um sonho: o exílio.

"Quando o avião decolou, era como se eu tivesse sido libertado de um enorme peso, como se estivesse constipado por 21 anos", lembra em sua autobiografia, "Still Grazing".

Depois de um período em Londres, estudou na Manhattan School of Music, em Nova York.

Nos Estados Unidos, tornou-se conhecido de figuras como Jimmy Hendrix, David Crosby, Marvin Gaye, Dizzy Gillepsie e "Mama Africa", a cantora sul-africana Miriam Makeba, por quem se apaixonou. O casamento durou dois anos.

Cantou a opressão e o combate. Em "Stimela", homenageia os trabalhadores negros nas minas. E em "Thanayi" lembra a luta de uma mulher para encontrar comida.

A vida de Hugh Masekela foi marcada por excessos. "Estava bêbado de dinheiro –quando conseguia encontrá-lo–, de drogas, que nunca eram difíceis de encontrar, de amor, de luxúria e de música, e não tinha pressa em ficar sóbrio (...) Na verdade levei décadas para acordar", escreveu ele.

De volta ao continente africano, tocou com o rei do afrobeat, o nigeriano Fela Kuti, e em 1974 participou da organização do festival por ocasião da luta de boxe entre Mohamed Ali e George Foreman em Kinshasa.

Na década de 1980, criou um estúdio de gravação móvel em Botswana e fez uma turnê com Paul Simon para o famoso álbum "Graceland".

O trompetista, casado quatro vezes, ganhou o prêmio Lenda do ano de 2016 no MTV Africa Music Awards e no mesmo ano tocou para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

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