Ancine hesita sobre impor cota em sites de vídeo sob demanda

Crédito: Zanone Fraissat/Folhapress Christan de Castro, presidente da Ancine, no seminário Panorama do VOD no Brasil
Christan de Castro, presidente da Ancine, no seminário Panorama do VOD no Brasil

GUSTAVO FIORATTI
DE SÃO PAULO

Diversos agentes do setor audiovisual do país, durante o seminário Panorama do VOD no Brasil, pressionaram o presidente da Ancine, Christian de Castro, a acelerar o processo de regulamentação do vídeo sob demanda no país.

Realizado no Museu da Imagem e do Som na terça (23) e na quarta (24), o seminário, que teve apoio da Folha, foi organizado por três entidades: a Associação Paulista de Cineastas, a Brasil Audiovisual Independente e o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo.

Uma questão central foi a implementação de cotas para produtos nacionais em plataformas de vídeo sob demana, como ocorreu com a Lei da TV Paga, de 2011, o que permitiu a expansão do acesso a produtos nacionais e estimulou profissionais da área.

Séries como "Me Chama de Bruna", na Fox, e "O Negócio", na HBO, ou o programa que debate cinema "Cine Rooftop", na Paramount, são exemplos do que surgiu após a lei, ocupando inclusive horários nobres nas grades desses canais.

Para realizadores e produtores, um período sem a regulamentação das plataformas de vídeo sob demanda, sob ação de empresas estrangeiras líderes de mercado, como Netflix, Now e HBO, pode significar uma nova inibição ao conteúdo nacional.

OPINIÃO CONCRETA

No cargo há menos de um mês, Castro desviou-se da cobrança, atribuindo a decisão ao Conselho Superior de Cinema, órgão colegiado do Ministério da Cultura a quem, diz, delegou-se a tarefa de avaliar a regulamentação.
"A gente não consegue efetivamente, e isso é opinião debatida dentro do Conselho Superior de Cinema, extrair uma opinião concreta de que faz sentido estabelecer agora uma cota no mercado do vídeo sob demanda", disse Castro.

A prioridade do conselho foi regulamentar a cobrança da Condecine, contribuição que incide sobre veiculação, produção, licenciamento e distribuição, entre outras atividades, de obras audiovisuais com fins comerciais.

A taxa gera recursos para o Fundo Setorial do Audiovisual e é revertida diretamente para o fomento do setor.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o MinC afirma que "ainda é cedo para definir um marco regulatório completo para o VOD, um mercado ainda incipiente e em processo de evolução".

No momento, a Ancine está produzindo um estudo do impacto da regulamentação. A entidade prevê finalizá-lo em até seis meses.

O estudo pode concluir, inclusive, que o mercado está imaturo para novas regras. Já existe, porém, no Congresso, proposta que pode se desdobrar em medida provisória ou projeto de lei sobre o tema.

O contraponto à fala de Castro foi feito por diversos profissionais, entre eles o cineasta Francisco C. Martins. "Uma das preocupações é um mercado que envolve somas astronômicas. Ele tende a uma concentração. É necessário uma regulação que preserve a diversidade."

Castro respondeu com certa dose de otimismo. Para ele, "na internet não há monopólio". "É um mercado de nicho, não vejo uma concentração. A Netflix tem uma preponderância pois partiu na frente."

O atual presidente da Ancine defende um mercado mais livre. "A força do criador não morre nunca. Quem tem capacidade de criar e é eficiente, dentro desse mercado, nunca vai ter problemas."

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