Sundance celebra a cultura LGBT ao premiar drama sobre 'cura gay'

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Crédito: Divulgação Cena do filme 'The Miseducation of Cameron Post
Cena do filme 'The Miseducation of Cameron Post'

FERNANDO GROSTEIN ANDRADE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARK CITY

Vitrine do cinema independente, Sundance celebrou a cultura LGBT ao dar o principal prêmio do evento a "The Miseducation of Cameron Post" (a deseducação de Cameron Post), drama que se passa num centro de conversão para homossexuais.

Ambientado em 1993, "The Miseducation" traz a atriz Chloe Grace Moretz ("Deixe-Me Entrar") no papel de uma adolescente que é flagrada fazendo sexo com outra garota e é forçada a fazer uma terapia para "se converter".

Outro destaque do festival foi "A Kid Like Jake", sobre pais que tem uma filha trans e que lutam para colocar a criança em uma pré-escola. Além disso, a drag queen RuPaul recebeu um retrospectiva.

EMERGÊNCIA

De maneira geral, Sundance exibiu filmes de mensagens afiadas a não ser uma ou outra exceção –e foi uma delas que venceu a competição de longas de ficção, "The Guilty", de Gustav Möller.

Filmado na Dinamarca, "The Guilty" é daqueles que chamam a atenção quase mais pela forma do que pelo conteúdo: foi feito em apenas uma locação, durante 13 dias, com um orçamento de menos de US$ 1 milhão (US$ 750 mil, para ser preciso).

O longa conta a história de um policial que, punido, se vê obrigado a trabalhar atendendo as chamadas de emergências. Em uma delas, uma mulher está sendo sequestrada. O resto da ação é pontuada pelas expressões do policial.

Segundo Möller, "a ideia veio de um clipe do YouTube, uma chamada real do 911". "Fiquei fascinado com o quanto poderia explorar aquilo. Só depois de escrever muito que fui estudar outros filmes realizados em uma locação só, estudar vários pontos de vista e ver como filmar."

Curiosamente, as chamadas de emergência também foram o tema de "Dispatch", curta em realidade virtual de Edward Robles de tirar o fôlego e considerado por muitos um dos mais inovadores na área –um gostinho do que vem por aí em termos de revolução tecnológica.

O prêmio do público foi para o forte "Burden", que pegou até o diretor Andrew Heckler de surpresa –ele estava com a filha dormindo no colo e não conseguiu se levantar quando anunciado.

"Burden" conta a história real de um membro da Ku Klux Klan que se apaixona, deixa o grupo e come o pão que o diabo amassou.

A história de obstinação de Heckler é quase tão grande quanto a de seu personagem. O diretor escreveu o primeiro argumento em 1998 e teve a produção interrompida e reiniciada algumas vezes –em uma delas, o produtor faliu.

"Uma produtora amiga minha dizia, 'vai acontecer quando tiver que acontecer'. E eu respondi. 'Mas já se passaram mais de dez anos. Estou ficando velho."

O tema do racismo, presente no Oscar deste ano em "Corra!", foi abordado em outras produções, algumas mais incômodas e desafiadoras ao público, como "Tyrel", que revira o estômago ao mostrar a viagem de um jovem negro com os amigos machões do seu amigo branco.

Mesmo sem prêmios, o Brasil fez bonito, tanto em produções 100% nacionais, como "Benzinho" de Gustavo Pizzi, ou "Ferrugem" de Aly Muritiba –que teve seus ingressos disputados a tapa e foi muito comentado–, como em coproduções, como "Un Traductor", com Rodrigo Santoro, "Skate Kitchen", coproduzido por Rodrigo Teixeira, e "I Think We're Alone Now", coproduzido por Fernando Loureiro.

Apesar de ser o primeiro prêmio para produções do ano, Sundance pode ser um bom prenúncio –foi neste festival que surgiu no ano passado "Me Chame pelo Seu Nome", agora no Oscar.

O festival será tema de uma série de oito episódios em vídeo no blog da Folha Fernando Grostein Andrade, também disponível no youtube

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