Descrição de chapéu Artes Cênicas

Adaptada de Mia Couto, peça retrata saga de jovem em meio a guerra civil

Narrativa mescla sonho e memória em saga de jovem durante conflitos em Moçambique

O ator Thiago Catarino interpreta Kindzu na montagem da Amok Teatro, adaptação de "Terra Sonâmbula", de Mia Couto
O ator Thiago Catarino interpreta Kindzu na montagem da Amok Teatro, adaptação de "Terra Sonâmbula", de Mia Couto - Daniel Barboza/Divulgação
MLB
São Paulo

É como numa roda de conversa, aludindo à tradição oral de povos africanos, que o grupo Amok Teatro narra a saga de um jovem em meio à guerra civil de sua terra.

"Os Cadernos de Kindzu", espetáculo que a companhia carioca estreia nesta quinta (1º) em São Paulo, é uma adaptação de "Terra Sonâmbula", romance do moçambicano Mia Couto que resgata a guerra civil no país africano, no fim dos anos 1970, logo após sua independência de Portugal.

Trata-se de um recorte do livro, partindo de uma de suas narrativas: a do personagem Kindzu (interpretado por Thiago Catarino), que após perder o pai e assistir aos destroços ao seu redor, decide fugir em busca dos naparamas, guerreiros místicos tradicionais de Moçambique.

No caminho, entre fugitivos e exilados, conhece a jovem Farida (Graciana Valladares), tida como amaldiçoada em sua comunidade e por quem Kindzu logo se apaixona.

"O texto é de uma atualidade perturbadora", diz Ana Teixeira, que assina a direção ao lado de Stephane Brodt. "A história de Kindzu poderia ser a história desses inúmeros imigrantes que atravessam o mar em busca de paz, de uma vida digna."

 

A Amok, que em seus 20 anos se debruçou sobre a pesquisa de diferentes tradições e culturas, abordando temas como a guerra, segue em "Os Cadernos de Kindzu" um estudo iniciado em "Salina (A Última Vértebra)" (2015), sobre as formas narrativas de matriz africana.

Mas, se em "Salina" (vencedora do Prêmio Shell-Rio de inovação e figurino) o foco era a a África ancestral, na atual montagem busca-se a África pós-colonial, com seus conflitos, a forte presença europeia e uma constante busca pela identidade.

Essa mistura é refletida na fala dos atores, que reproduzem um português de sotaques moçambicanos, lusitanos e de imigrantes indianos.

​SONHO E MEMÓRIA

Em sua encenação, a companhia replica os toques de realismo fantástico da escrita de Couto, com imagens oníricas, referências místicas e alusões ao mundo dos mortos. É uma narrativa em que se misturam memória, sonho e realidade, transitando entre passado e presente. Segundo Teixeira, "uma espécie de jogo de espelhos com o tempo".

Tudo é feito de modo simples, sem recursos grandiosos. Muito se apoia no trabalho do elenco, que, auxiliado pela iluminação, movimenta os poucos objetos do cenário para criar as diferentes situações, como uma jangada formada apenas por um feixe de luz e o apoio de um remo.

"É uma cena nua, simples. Um teatro extremamente artesanal", afirma Teixeira

A música, outra marca da Amok, é também executada pelos atores. Estes, quando não estão em cena, sentam-se ao redor dela e são responsáveis pela sonorização e pela trilha, com as musicalidades africanas, os ritmos indianos e o fado português que embalam a viagem de Kindzu.

Afinal, diz a diretora, "a música é um forte instrumento de aproximação do outro".


OS CADERNOS DE KINDZU

Quando qui. a dom., às 19h15; até 18/2

Onde Caixa Cultural São Paulo, pça. da Sé, 111, tel. (11) 3321-4400

Quanto grátis

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