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Cantoras realçam inventividade da MPB e do rock contemporâneos em novos discos

Ava Rocha e Maria Beraldo propulsionam força feminina em recém-lançados 'Trança' e 'Cavala'

As cantoras Ava Rocha e Maria Beraldo, que lançam os álbuns "Trança" e "Cavala"
As cantoras Ava Rocha e Maria Beraldo, que lançam os álbuns "Trança" e "Cavala" - Rafael Jacinto e João Kehl/Folhapress
Debora Pill

Trança

  • Quando Show de lançamento: sexta (27/7), às 21h, no Auditório Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/n). R$ 30.
  • Autor Ava Rocha
  • Gravadora Natura Musical e selo Circus

Cavala

  • Quando Show de lançamento: quinta (28/6), às 20h, no Itaú Cultural (av. Paulista, 149). Grátis.
  • Autor Maria Beraldo
  • Gravadora Risco

“Trança”, terceiro disco da cantora, compositora e cineasta Ava Rocha, chega entrelaçando liberdade, afeto e colaboração coletiva.

São 19 faixas e 35 artistas que habitam um território musical inventado por Ava e que tem no encontro sua força geradora.

O fluxo narrativo-sonoro é contínuo e percorre presente, passado e futuro. Ava costura sua arqueologia pessoal negra e indígena com deusas e líderes revolucionárias. Inventa seu feitiço, canta dualidades e ri de si mesma.

Ritmo, experimentalismo e espiritualidade dão o tom da sonoridade do disco.

“Maré Erê” abre os trabalhos com uma evocação à força da alegria e renovação da vida, envolta em um poderoso coro de vozes femininas composto por Juçara Marçal, Iara Rennó, Bella, Juliana Perdigão, Karina Buhr e a pequena Uma, sua filha.

“Lilith”, belíssima parceria com Tulipa, tem levada à la Jorge Ben e vocação para hino pop feminista.

Mas atenção: o feminismo de Ava é libertário, dialético e transcende gênero, como mostra “Joana Dark”, um funk de terreiro com cheiro de erva sagrada, entoado por Linn da Quebrada, Alessandra Leão, Ariane Molina e Mariá Portugal.

A letra brinca com várias possibilidades dessa Joana, que manda, queima e dá, nos versos:  "Cê tá curtindo? Cê tá gostando? Mas abre o olho que aqui sou eu quem mando / Sou eu queimando / Sou eu queimando na fogueira do pecado / Joana Dark / Joana Dark / Joana Dá Dá Dá Dá Dark".

Em "Trança", a sequência de títulos das faixas, por si só, já renderia um filme. Nele, Erês, Liliths e Joanas Dark coexistem com Dorivais, Bárbaras, Miltons e Itamares, em uma trama costurada com neblina, febre e delírio.

Corta. Irrompe no horizonte “Cavala”, primeiro disco solo da clarinetista, claronista, cantora e compositora Maria Beraldo.

Como Ava, ela é figura ativa na cosmologia da música contemporânea de sua geração, colaborativa e inventiva. É integrante do grupo Quartabê, faz parte da banda de Arrigo Barnabé e já colaborou com Elza Soares, Iara Rennó, Rômulo Fróes e Negro Leo.

Em “Cavala”, Maria se liberta de suas próprias rédeas e se assume compositora e lésbica. No disco, além de nove composições próprias, ela canta, toca clarinete, clarone, guitarra, sintetizadores e também faz programações eletrônicas.

A estrutura sonora é concisa, de poucos elementos e curta duração. Sua poesia, doce, íntima e densa, tem pulso próprio e transborda nas ricas paisagens instrumentais, entrecortadas por ruídos.

A faixa de abertura, com Tim Bernardes na guitarra, dá o tom da sua entrega: "Tão desavisado meu / Tesão / Vivo um momento / Tenso / Livre, leve e solto de coração / É gostoso é / Tenso".

Em “Amor de Verdade”, canta uma conversa honesta: “Pai, gosto muito dos homens, sim/ De tê-los ao alcance da boca, sim/ Mas no calor da manhã quem me fez delirar foi uma mulher/ Como é minha mãe”.

“Sussussussu”, sua e de Mariá Portugal, é baião experimental bem-humorado, só com voz e programação, com vocação para hit de pista. 

Dois discos políticos e universais que, em suas singularidades, provocam, cada um a seu jeito, a renovação do feminino em sua força motriz.

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