Série impele procura por Osho na internet e nas livrarias

Para discípulo brasileiro, atração é tendenciosa, mas desperta curiosidade

Isabella Menon
São Paulo

Discípulo de Bhagwan Shree Rajneesh, Devam Bhaskar, 59, coordena um centro de meditação na Chapada dos Veadeiros, onde aplica ensinamentos de seu mestre.


Ele diz notar que o interesse a respeito do líder espiritual conhecido como Osho aumentou após o sucesso da série documental “Wild Wild Country”, da Netflix. 


A sensação é corroborada por editoras que publicam livros de Osho no Brasil e por dados de buscas na internet.


A produção narra em seis episódios os embates entre  moradores de Antelope, no estado americano de Oregon, e seguidores do guru que instalaram uma comunidade na região, nos anos 1980.


Devam Bhaskar era Geraldinho Vieira antes de fazer contato com a comunidade de Rajneeshpuram. Ele, que conhecera a filosofia do líder por meio de livros que chegaram ao Brasil, passou em 1983 uma semana em um festival promovido no local. 


“Na hora que Osho chegou, eu estava no meio de 20 mil pessoas e todas as minhas mentiras interiores começaram a emergir”, lembra. Ele tinha 20 anos e retornou ao Brasil com um objetivo: juntar dinheiro e voltar àquele lugar. 


Após a série, a procura por Osho na internet aumentou 100% no mundo, segundo a ferramenta Google Trends. Em abril de 2018, registrou-se a maior procura por seu nome da história do mecanismo. 


No Brasil, editoras notaram crescimento na procura por livros de Osho recentemente. 


A Sextante diz que houve aumento de 50% nas vendas de “Aprendi a Silenciar a Mente”,  único livro do guru ainda ativo no catálogo da editora, na comparação entre junho de 2018 e junho de 2017. 


A Best Seller registrou aumento de 20% na venda dos livros do guru desde que a série saiu, em março. A editora tem oito títulos dele no catálogo.


Bhaskar, que trabalhava como jornalista, foi um dos últimos a entrevistarem o guru

A conversa versou sobre temas como a glasnost, pornografia e Aids e foi editada no extinto semanário Folha d’, em 3 de dezembro de 1989. Osho morreria em Poona, Índia, em 19 de janeiro seguinte.


Devam Bhaskar diz não poder afirmar que o centro Dhyan, que ele comanda na região de Alto Paraíso (GO), tenha tido mais procura após a série. “Sempre está cheio”, diz.


Mas ele afirma que “Wild Wild Country” despertou curiosidade geral em torno da vida na comunidade. “As pessoas sentem que a série não mostrou o melhor da história”, diz. 


A partir de 1985, ele viveu por dois anos em Rajneeshpuram. Bhaskar conta que, na época, ele e outros moradores que não formavam o conselho administrativo da comunidade não sabiam com clareza dos problemas com os locais. Muitos detalhes ele só soube após assistir a série .


Hoje, ele pensa ter havido arrogância por parte dos seguidores do guru em relação à população local. Mas afirma que os costumes da comunidade religiosa foram mal interpretados e mostrados de forma tendenciosa na série. 


Bhaskar diz que cenas identificadas à época como uma orgia eram parte de uma meditação e que isso não foi bem contextualizado na produção. “Custava ter 30 segundos de explicação daquilo?”


A ideia do sexo livre, que muito chocou os moradores de Antelope, seria, explica, parte de uma vida que pregava a liberdade de forma geral. 


Da mesma forma, a série frisa o gosto do guru por joias e automóveis Rolls-Royce. 


“É comum a ideia de que a espiritualidade é sinônimo de renúncia”, diz Bhaskar. Mas, afirma, para Osho, os carros eram só “bonitos e confortáveis”. “Ele não construía sua identidade em torno disso.”


Osho deixou os EUA após ser condenado por fraude migratória. A Justiça entendeu que ele estimulou casamentos entre fiéis estrangeiros e americanos para garantir a permanência dos primeiros. 


Para Devam Bhaskar, o guru foi perseguido por representar uma ameaça aos costumes do Ocidente, “um mundo careta, onde a espiritualidade significa a renúncia ao dinheiro e ao sexo”.

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