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Mostra em SP escancara macarronada de influências italianas na moda brasileira

'Vestindo o Tempo - 70 Anos de Moda Italiana', no Tomie Ohtake, vai da calça Fiorucci ao vermelho Valentino

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São Paulo

Se a moda brasileira é reconhecida pelo seu apelo visual, com brilhos, pele aparente e cores, muito disso se deve à influência da Itália.

O barroco que marca a fase dourada da Versace, a profusão de cores nas estampas Emilio Pucci e mesmo a predileção pelo jeans, tão importante para a cultura jovem, se infiltraram no nosso guarda-roupa —as calças Fiorucci, por exemplo, que chegaram ao país nos anos 1970, foram parar décadas depois em versos dos Mamonas Assassinas como um símbolo de desejo.

Não que essas marcas sejam mais definitivas para o entendimento estético brasileiro do que a culturas indígena, na qual o corpo aparente não carrega o pudor europeu, ou africana, que trouxe o simbolismo das cores ao armário, mas é possível dizer que a macarronada de referências italianas definiu o molho estético do século 20.

Parte dessa história está evidente na mostra “Vestindo o Tempo – 70 Anos de Moda Italiana”, que o Instituto Tomie Ohtake abre agora, em São Paulo. As 45 peças expostas, que vieram de um acervo com mais de 6.000 roupas dos colecionadores Enrico Quinto e Paolo Tinarelli, não escancaram só a relevância de seu país de origem, mas também quanto o Brasil se baseou nele para se firmar como potência criativa neste século 21.

Entre as relíquias ali, um look da Lancetti, dos anos 1970, e um Krizia, dos anos 1980, poderiam figurar nas vitrines mineiras de moda festa. E a estampa de leopardo num dos longos Versace, de 1992, ainda é encontrado no atacado no Bom Retiro, região do comércio popular de São Paulo.

Querido entre as brasileiras e copiado por anos, o longo vermelho Valentino dos anos 1980 se destaca na entrada da mostra, próximo a raridades da Fendi e do designer Ken Scott.

A organização do historiador de moda João Braga é detalhista ao excursionar pelos primórdios da invenção da alta-costura italiana, nos anos 1950, até os dias de hoje. 

“Nossa formação é latina, e, ainda que tenhamos herdado traços de Portugal, a estética deles bebe da de Roma. O barroco e sua estética dramática, de teatralidade, foi uma dessas correntes que assimilamos em nossa cultura de vestir”, afirma Braga.

Do ponto de vista museológico, a exposição também é um alento para um país que, embora tenha alguns de seus cursos de moda na lista dos melhores do mundo, ainda não investe em conservação de acervos e interação com outras instituições da área.

A coleção de Quinto e Tinarelli é reconhecida como uma das mais completas do mundo —além de costumar viajar para museus como Victoria & Albert, de Londres, e o Metropolitan, de Nova York, serve de arquivo para grifes pesquisarem coleções passadas.

Uma das últimas estilistas que passaram na biblioteca vestível da dupla foi Maria Grazia Chiuri, da Christian Dior, que foi até eles pesquisar ao vivo as criações de seus antecessores no comando da grife, Yves Saint Laurent, John Galliano e Marc Bohan.

“Já trabalhamos com praticamente todas as maisons, e é engraçado como algumas marcas chegam a alugar os vestidos por até dois anos para que possam relançar versões deles e ninguém os veja em seus formatos originais”, conta Tinarelli.

Quando o estilista Peter Dundas foi diretor criativo da Emilio Pucci, parte importante de sua pesquisa imagética se concentrava no acervo de criações da marca dos anos 1930.

Do Brasil, contam, há poucas referências atuais que podem servir de inspiração para as marcas. Mais novos que os vestidos do século passado confeccionados por Clodovil e Guilherme Guimarães, eles só têm itens da marca de sandálias Melissa e outras peças de Alexandre Herchcovitch, Osklen —“as mais antigas, vanguardistas”— e Reinaldo Lourenço.

Não significa, por isso, que eles vejam a produção brasileira contemporânea com olhar enviesado —pelo contrário. “Colhemos a produção mais relevante das marcas. O Brasil, posso dizer, hoje influencia o mundo muito mais do que é influenciado, como acontecia antes. A modelagem justa da calça jeans de vocês, por exemplo, é a mais copiada do mundo, inclusive pelas italianas.”

Vestindo o Tempo – 70 Anos de Moda Italiana

  • Quando Ter. a dom. das 11h às 20h, de 13/11 a 2/2
  • Onde Instituto Tomie Ohtake (r. Coropé, 88 - Pinheiros)
  • Preço Grátis
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