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27/07/2010 - 10h00

Bálcãs só são viáveis na União Europeia, diz escritor Ismail Kadaré

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FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Em entrevista à Folha, o escritor albanês Ismail Kadaré defendeu a entrada de seu país e dos vizinhos balcânicos na União Europeia como "única alternativa" de torná-los viáveis.

Embora a Albânia aspire entrar na UE, não há hoje perspectiva para isso --o mesmo sobre os vizinhos.
Para o autor do recém-lançado "O Acidente" --uma história de amor em paralelo à convulsão política na Albânia--, a autonomia do Kosovo não pode ser posta em causa. A independência da província foi ratificada pela corte máxima da ONU na semana passada, depois de realizada a entrevista.

Kadaré, que vive na França, possui idiossincrasias no contato com jornalistas. Evita falar sobre seus próprios livros. Prefere ser entrevistado pessoalmente. Não responde a algumas perguntas.

Foi marcada uma entrevista por telefone. A reportagem ligou no dia acertado, mas ele afirmou que não combinara nada. Em seguida disse que seu telefone estava com defeito e por fim pediu para enviar perguntas por escrito. Um mês depois, mandou as respostas a seguir.

Eloy Alonso/Reuters
O escritor albanês Ismail Kadaré, que está lançando no Brasil "O Acidente"
O escritor albanês Ismail Kadaré, que está lançando no Brasil "O Acidente"

Folha - Num trecho de "O Acidente" a personagem se pergunta se a liberdade na Albânia não se transformou num grilhão, com excesso de luxo e dinheiro, a busca do tempo perdido. É a sua opinião?

Ismail Kadaré - Tendo sonhado a liberdade por tantos anos, quando ela chega as pessoas tendem a ressaltar sua perfectibilidade. Claro que, por muito tempo, a liberdade nos países ex-comunistas será interpretada assim. Mas não creio que possa ser comparada à prisão.

A entrada da Albânia na União Europeia é viável? O ingresso na Otan foi o primeiro passo? O que falta?

Não somente a Albânia, mas nenhum país da península balcânica é viável sem integração na União Europeia. Não é um luxo, mas a única alternativa. A entrada da Albânia na Otan é, sem dúvida, um primeiro passo. A Otan tem uma autoridade moral particular aos olhos dos albaneses porque fez a única intervenção militar para proteger sua liberdade.

A independência do Kosovo é de fato?

O Kosovo é livre. É o ponto mais importante. O resto é secundário. Pode voltar à estaca zero se sua independência for posta em causa.

Acredita na união entre Albânia e Kosovo?

A vontade do povo kosovar, em acordo com a comunidade internacional, pode decidir por algo assim. A paz é importante em todo lugar, mas é ainda mais nestas regiões que ainda não a conhecem verdadeiramente.

Um dos líderes mais criticados da história contemporânea, Bush era até recentemente herói na Albânia. Como analisa?

É simples: Bush encarnou a América. Bem antes dele, [o fez] seu predecessor e antigo opositor político, Bill Clinton --os dois foram muito próximos dos albaneses por terem estado no centro da história do país no momento crítico.

Pensa em voltar à Albânia, ou a França se tornou o seu país?

Há muito não me considero mais alguém que deixou a Albânia. É verdade que divido meu tempo entre a Albânia e a França, mas ainda sou um escritor albanês, escrevendo na minha língua. Minha presença nos dois países me parece natural.

Mantém contato com Walter Salles [que adaptou ao cinema "Abril Despedaçado]?

Mantenho excelente relação pessoal com ele. Nosso último encontro aconteceu no Café Rostand, em Paris, em frente ao Jardim de Luxemburgo, onde vou quase todos os dias. Um dia, na mesa vizinha, vi um perfil conhecido, que me fez dizer para mim mesmo: eis alguém que me lembra Walter Salles. Neste momento, ele virou em minha direção, cheio de vida: era ele mesmo!

O ACIDENTE
AUTOR Ismail Kadaré
TRADUÇÃO Bernardo Joffily
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 47 (232 págs.)

 

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